Reportagem de Leslie Leitão publicada na edição impressa de VEJA
O DISFARCE PERFEITO
Com a fachada de policial exemplar, um dos grandes traficantes de armas do Rio extorquiu, roubou e matou impunemente. Agora, começa a responder por seus crimes
Um homem se infiltra na polícia, usa as gírias da corporação, anda de pistola na cintura, carrega algemas e distintivo e circula em viatura com placa oficial. Aproveita o disfarce para extorquir, roubar e até matar. Descoberto, é julgado e condenado, cumpre pena e, assim que sai da cadeia, retoma a farsa em outro ponto da cidade.
Casa-se com uma moça rica, engambelada pela fachada de homem sério. Parece enredo de filme, mas é o roteiro da vida dupla de um dos maiores traficantes de armas do Rio de Janeiro, Flavio Teixeira Marinho, 40 anos, que vinha se fazendo passar pelo que não era ao longo dos últimos quinze anos, sem ser incomodado. Finalmente, a polícia do Rio o desmascarou pela segunda – e, espera-se, última – vez ao ser flagrado vendendo armas e munições nas imediações de uma favela no subúrbio de Madureira.
A carreira, por assim dizer, de Marinho começou no bairro de Benfica, Zona Norte do Rio, onde foi criado. No fim dos anos 1990, ali ele se casou com a viúva de um policial civil, o primeiro de seus três matrimônios. Ainda sem muita expertise, Marinho colou sua foto na carteira funcional do policial morto, equipou um carro roubado com placas brancas como as usadas pela corporação e, junto com um amigo, montou um esquema de extorsão de traficantes numa região a 30 quilômetros de distância de onde vivia.
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