17/09/2012
Laurence Bittencourt (1)
Uma sabedoria é algo que não se transfere. Precisa de um contato permanente com o outro e de alguma coisa (um olhar atento, uma sensibilidade) que surge não só por hereditariedade e que se mostra como uma lupa aumentando o foco de visão de toda uma coletividade.
Começo esta crônica com essa abertura (mas não um nariz de cera) para falar de uma frase escrita esta semana que passou pelo jornalista aqui da minha terra, Natal/Rn, Vicente Serejo (charge) em sua coluna no jornal vespertino O Jornal de Hoje, que demarca com uma precisão cirúrgica uma mente (ou mentalidade) autoritária (intolerante talvez) de outra que sabe receber critica.
A frase dizia respeito à propaganda eleitoral do candidato Carlos Eduardo (PDT) em oposição à de Hermano Morais (PMDB) por ocasião da disputa eleitoral (pelo voto) a prefeitura de Natal.
A frase pinçada de sua coluna tinha como titulo “Dúvida I” e dizia o seguinte: “O ex-prefeito Carlos Eduardo, na sua propaganda, debulhou as contradições da vida do seu adversário Hermano Morais. Perfeito o disparo. Mas, e se tivesse sido o contrário, ele teria esmurrado seu crítico?”. Para quem não é de Natal eu explico: recentemente em um debate televisivo o candidato do PDT de dedo em riste se mostrou furioso (quase partiu para o ataque físico) com Hermano Morais demonstrando não só grosseria como descontrole emocional. Nas pesquisas o candidato do PDT está em primeiro lugar mas vem caindo, enquanto Hermano vem subindo.
Mas voltando a frase do jornalista, Serejo não cometeu o erro tão comum a muitos analistas (quase escrevia fanático) que nega a ver positividade numa formulação ainda que tocada de forte crítica. Ao reconhecer a crítica articulada pela campanha de Carlos Eduardo no campo do mérito, nem por isso, deixou de indagar (baseado em constatações e fatos recentes e anteriores) se tivesse ocorrido o inverso, como se comportaria o candidato do PDT. Esse tipo de percepção e constatação é raro, dificílimo, mas corretíssimo. E sutil.
Fazer um ataque pode ser muito bom quando nos traz dividendos e recompensas. O difícil é aceitar (o que caracteriza a mente democrática) quando somos o alvo. É nesse momento que podemos de forma clara distinguir nitidamente um comportamento, ou uma mente (ou mentalidade) autoritária de outra.
Esse debate também aparece em outras esferas da atividade humana, em outras esferas da cultura, tomando aqui a palavra cultura como a representação (em oposição ao natural) de tudo aquilo que é criado pela mão e mente humana, como por exemplo, a literatura conradiana.
No livro “O coração das trevas”, Joseph Conrad seu autor, desenvolve uma alusão semelhante, ao construir um personagem “Charlie Marlowe” que saindo da civilização, vai para o contato com o primitivo e encontra o ex-general Kutz transformado em um totem, ou seja, o totem como símbolo de um líder intocável, que não permite a discordância, a crítica, culminando na intolerância, na barbárie.
Recentemente também tivemos o caso do “pastor” que por abandonar a “lei” Islâmica, mudando de religião, foi condenado à morte por essa mesma religião acusado de apostasia. São casos de intolerância. Há outros obviamente. Resta vislumbrar que ainda há luzes em meio às trevas. Uma bênção.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br
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