terça-feira, 25 de setembro de 2012

Sem desculpa, por Ateneia Feijó


POLÍTICA


Veio do céu, desceu igual a um pião e com sua ponta foi puxando tudo. Arrancou casas do chão e levantou uma vaca a uns 20 metros de altura... Um tornado! Na Costa do Golfo, nos Estados Unidos? Não, no Brasil. Na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, em janeiro do ano passado.
Na mesma época em que enxurradas na Região Serrana deflagraram a maior catástrofe que já se teve notícia no país em número total de vítimas.
O balanço da tragédia computou mais de 900 pessoas mortas e milhares de desabrigadas pelas avalanches de lama nas encostas de vários municípios. Um evento até então imaginável em outras paragens, não aqui.


Neste fim de semana, os moradores da Região dos Lagos também não imaginavam que seriam surpreendidos por ventos de até 100 km/h, que atingiram as cidades de Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, Iguaba Grande e Araruama (foto acima). Sua fúria assustou. Desalojou muitas famílias, derrubou dezenas de árvores e provocou incêndios nas redes de alta tensão.
A descrição do tornado no início deste artigo já é outra história; contada pelo secretário de Defesa Civil de Nova Iguaçu, coronel Acácio Perez, à repórter Ludmilla de Lima (O Globo 23/9). Em seus 43 anos de Corpo de Bombeiros, o coronel nunca tinha visto nada parecido antes.
Há quem se recuse a enxergar racionalmente as inevitáveis forças da natureza, complicando ainda mais o problema de convivência com elas. E, por isso, há uma novidade para se festejar: o Mapa de Ameaças Naturais do Estado do Rio de Janeiro, de autoria do tenente-coronel Paulo Renato, diretor da Escola de Defesa Civil do RJ (Esdec).
Entre vários dados, aparecem os riscos mais comuns na capital e nas cidades fluminenses: deslizamentos (18%), enchentes (15,4%), alagamentos (14,6%), enxurradas (13%), incêndios florestais (10,2%), tempestades (8%), estiagens (6,5%), rolamentos de rochas (4,8%), movimentação de terra (1,1%) e outros (7,5%). Todos mapeados nas regiões onde ocorrem.
A partir dessa pesquisa, prefeituras podem se adaptar às ameaças, sabendo que desastres de consequências visivelmente piores sucedem onde a densidade populacional é maior. E se prevenir: com obras adequadas, equipamentos científicos, sistemas de alarme, treinamentos, abrigos etc.
Mas sem educação ambiental dificilmente um cidadão comum vai entender o que é local de risco, prevenção... Ou perceber a safadeza de um político oportunista. Aquele que se aproveita de desastres evitáveis, eleitores ingênuos e dos que acreditam no fatalismo.

Ateneia Feijó é jornalista

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