Percival Puggina
A palavra Educação é um contêiner tão abarrotado de significados e conteúdos que a gente muitas vezes se emaranha em conceitos a clamar por definições. Não vou entrar nessa. Meu objetivo é outro. Ninguém recusará que o ser humano tem várias dimensões e que a formação de todas seja conteúdo do contêiner. Ali está, por exemplo, a formação das dimensões ética, religiosa e política do ser humano.
A questão que submeto à reflexão dos leitores é esta: a quem cabe primazia na formação ética, religiosa e política das crianças? Não hesito em afirmar que a imensa maioria dos adultos que me leem sustentarão, a esse respeito, não apenas a prioridade, mas a fundamental responsabilidade dos pais.
Há poucos dias, postei no meu blog um artigo sobre a necessária educação sexual das crianças e as iniciativas perversoras que, volta e meia, autoridades educacionais resolvem adotar, metendo-se de pato a ganso na matéria. Tem havido experiências que vão dos pênis de borracha em sala de aula, ao kit gay, e a livros didáticos com estímulo à masturbação infantil. Sim, sim, tudo isso no Brasil, leitor. Se duvida, procure na internet.
Entre os e-mails que depois recebi veio o de um amigo que mora no Canadá. Segundo ele, a coisa, por lá, vai na mesma toada. Contou-me que seus netos estão sendo educados em homeschooling, que é a palavra inglesa para o aprendizado escolar domiciliar. No colégio, as crianças eram intoxicadas por uma educação em tudo avessa à que os pais gostariam que lhes fosse proporcionada. Então, abraçaram a tarefa.
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TUDO DOMINADO
TUDO DOMINADO
No Brasil, país onde tudo está dominado, não temos nem essa saída. Segundo o ECA, é dever dos pais matricular os filhos na “rede regular de ensino”. Se a rede for pública, a orientação moral, religiosa e política será ditada pelo Estado, pelos livros didáticos, pelas obras recomendadas. Não vem aí uma geração que ficará sem conhecer Monteiro Lobato – aquele racista que inventou a Tia Anastácia?
Nove milhões de exemplares de um livro de História tão engajado que até o governo os retirou de circulação quando seus conteúdos vieram a público, não foram adotados como bons durante dez anos pelo MEC? Não são comuns em concursos públicos perguntas cuja resposta certa é a que cai no gosto político do ente estatal que patrocina a seleção? Enfim, na escola pública não há como conseguirem os pais exercer sua fundamental responsabilidade. Quando não é o Estado é o sindicato dos professores. E quando não é o sindicato dos professores são, não raro, os próprios professores os encolhedores de cabeça a serviço de tal ou qual ideologia.
Restam as escolas privadas, confessionais ou não. As primeiras, com honrosas e escassas exceções, têm um nome cristão no pórtico, mas fornecem mercadoria bem diferente aos alunos. As não confessionais, pelo seu caráter secular, se apresentam como plurais. Mas o pluralismo nunca é muito confiável e não costuma ser plural. O homeschooling é uma solução já legalizada em diversos estados norte-americanos e no Canadá. Mas é solução para poucos. Para muito poucos. E mesmo assim o núcleo político da ideologia dominante assusta-se com o surgimento de uma elite menos influenciada por ele. A proposta de emenda à Constituição (PEC 444) que trata disso está no freezer da nossa Câmara dos Deputados há quase um ano. Os fazedores de cabeça não gostarão deste artigo. Não admitem que alguém antagonize seus anseios por hegemonizar a Nação.
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