domingo, 7 de setembro de 2014

O Fiasco da Diplomacia Brasileira


Posted: 06 Sep 2014 04:12 AM PDT

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Daniel Rabetti

Os brasileiros ainda estão chocados com a traumática eliminação na Copa do Mundo, que ocorreu no mês passado. Como um amante do futebol e brasileiro nato é claro que enfrentei uma onda de piadas feitas por meus amigos Alemães e Argentinos. Entretanto, essa não foi a situação mais embaraçosa que passei recentemente.

A Chancelaria brasileira, "Itamaraty", publicou uma nota diplomática dizendo "nós condenamos Israel pelo uso desproporcional de força em Gaza". Em seguida, o Embaixador do Brasil em Tel Aviv foi chamado a Brasília para consulta – protesto diplomático. Finalmente, uma série de declarações desastrosas pela Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e seu Assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, enfatizaram o tom das críticas. Garcia disse à imprensa que "Israel comete um genocídio do povo palestino". Em uma tentativa de corrigí-lo, ironicamente Dilma Rousseff afirmou que "Israel não comete um genocídio, comete um massacre".

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores israelense chamou o Brasil de "anão diplomático" e afirmou que o Brasil não está ajudando Israel à alcançar uma solução do conflito, mas sim passou a ser parte do problema.

Brasil é conhecido internacionalmente por seus valores pluralistas. Ao contrário das tendências antisemitas na Europa, a comunidade judáica no Brasil nunca foi alvo direto de ações racistas. Como, por exemplo, Vila Madalena, um bairro arrojado de São Paulo, é inundado por jovens à caminho de seus restaurantes, clubes e bares favoritos. É também conhecido por seus restaurantes libaneses autênticos, frequentados principalmente por Árabes e Judeus.

Infelizmente, devido essas ações do Governo brasileiro, as consequências já começaram a brotar na comunidade judáica. De acordo com a Juventude Judáica Organizada, uma organização de jovens judeus brasileiros com mais de 17.000 seguidores em sua página no Facebook: "Temos notado que alguns casos antisemitas surgiram em todo o Brasil", acrescentaram, "jornalistas e políticos brasileiros costumam basear suas críticas contra Israel em raízes antisemitas”.

Possuindo uma posição de liderança na América do Sul, o Brasil pôde influenciar a região desencadeando uma série de ações similares por países vizinhos, como Argentina, Chile (que tem a maior comunidade palestina na América do Sul) e no Peru. Venezuela e Bolívia, que não têm relações diplomáticas com Israel, já era esperado a criticar Israel internacionalmente. A abordagem diplomática brasileira, porém, não foi uma grande surpresa. As críticas tendenciosas do Brasil expuseram interesses que até então permaneciam ocultos do público.

O Brasil vem tentando se aproximar do Irã, sob a influência de seus grandes primos do BRICS: Rússia e China. Você deve se lembrar de que o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido com um tapete vermelho no Teerã e apertou a mão do então ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, durante o auge do programa nuclear iraniano.

Além de estreitar os laços das relações bilaterais com o Irã, o Brasil ajuda a Rússia e a China em estabelecer os interesses diplomáticos desses países na região e tentar reformar o sistema de governança global norte-americana. Em troca, eles apoiam o Brasil em questões internacionais, por exemplo, defendendo os interesses brasileiros na Organização Mundial do Comércio. Além disso, os Chineses vêm investindo fortemente no Brasil nos últimos anos, como, adquirindo vinte por cento dos direitos de exploração do maior campo brasileiro de petróleo, em um acordo criticado pela oposição. A China, desde 2009, é o maior parceiro comercial do Brasil.

Além disso, não há nada melhor do que ser populista nas vésperas das eleições presidenciais. Em outubro, os brasileiros decidirão se mantêm Rousseff como presidente por mais quatro anos de mandato ou se quebram o legado de doze anos no poder do Partido dos Trabalhadores. No mês passado, escândalos de corrupção envolvendo Dilma Rousseff foram levantados ​​pela oposição e intensamente explorados pela imprensa. Portanto, tirar o foco do público para Oriente Médio, foi uma medida inteligente da candidata Dilma Rousseff para manter a mente dos eleitores distante das questões locais.

Finalmente, o partido de esquerda da presidente Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores, está profundamente enraizado na retórica socialista com uma oposição histórica aos Estados Unidos e seus aliados políticos, econômicos e militares. A mesma ideologia se alinha com outros governos sul-americanos, como no caso de Maduro, na Venezuela, Evo Morales, na Bolívia, Mujica, no Uruguai, Kirchner, na Argentina e Correa, no Equador.

É evidente que os líderes do Brasil exteriorizaram suas opiniões políticas, fundamentados em interesses ocultos, ao invés de substanciar seus argumentos para condenar o Estado de Israel.

No entanto, essa onda de críticas duras não representa, necessariamente, a opinião pública. De acordo com uma pesquisa realizada por um jornal de grande circulação em São Paulo, Folha de SãoPaulo, setenta e quatro por cento dos seus leitores acreditam que Israel não usou força desproporcional e que as vítimas do lado israelense foram minimizadas somente por causa do sistema antimísseis: Domo de Ferro. Devido ao desenvolvimento desses eventos, há um crescente sentimento anti-Israel e antisemita na região, na qual esperamos que não dure tanto tempo quanto o recente "massacre" do futebol brasileiro.


Nota: O artigo original foi escrito em Inglês, The Brazilian Diplomatic Fiasco, por Daniel Rabetti, e foi publicado no Jornal de maior circulação em Israel: The Jerusalem Post.

Daniel Rabetti é Professor assistente na Interdisciplinary Center Herzliya, Israel, e escreve para os jornais The Jerusalem Post e Times of Israel. Alguns de seus artigos foram publicados em blogs, revistas e jornais de grande circulação em Israel e no Brasil.

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