domingo, 7 de setembro de 2014

Cartas de Buenos Aires: Comer em Buenos Aires, manual do glutão


Gabriela Antunes
Talheres em punho, as pupilas dos olhos se dilatam, a boca se enche de saliva, o iphone se prepara para a foto. Selfie, foodie, instagram, facebook e whatsapp.
#bifedechorizo # lacabrera #comerembuenosaires
O brasileiro enlouquece a la Fred Flintstone e se prepara para comer um filé de brontossauro, a la Argentina. A parte cavernícola do homus erectus se ergue, reação comum do turista brasileiro em Buenos Aires, principalmente masculino, diante de um pedaço generoso de carne. Muita gente se emociona com a visão de um bife de mais de cinco centímetros de altura.
Massas, doces, carnes, medialuna, empanada, miga, choripan e vinho, muito vinho. O dólar a 14 pesos, o real a 5. Barato, muito barato. Garçom, desce mais vinho! Dáme dos! O brasileiro vai à Festa de Babette em Buenos Aires. Como se diz sal de fruta em espanhol?
Os preços dos menus executivos, oferecidos somente no almoço, muitas vezes podem ser menos da metade do custo de um jantar. Vale a pena, também, aproveitar que boa parte dos argentinos, com curtos horários de almoço e o hábito de refastelar-se apenas tarde da noite, deixa os restaurantes mais vazios para os turistas ao meio dia.
Não é nenhuma novidade que Buenos Aires vem se tornando pouco a pouco uma das grandes capitais gastronômicas do continente. Com doze dos cinquenta melhores restaurantes da América Latina por aqui, segundo a revista britânica Restaurant, o brasileiro se esquece dos gestos de provocação de 7x1 da derrota para a Alemanha durante a Copa, tão lembrada pelos argentinos, e comemora os 5x1, cincos pesos por um real.
A cidade se rende ao apetite. Até o próximo dia 14, alguns dos melhores restaurantes da cidade participam do Bafoodweek, com cardápios enxutos com entrada, prato principal e sobremesa a preço que não chega a 30 reais, tutti! Alegria glutona para todos.
Os restaurantes têm mesmo que apostar no turista. Em 2013, mais de 700 restaurantes fecharam as portas, 4.200 funcionários ficaram ao deus-dará só na capital argentina. Muitos argentinos cortaram os gastos de comer fora. A coisa não anda lá essas maravilhas no bolso de los hermanos.
A boa notícia é que, ainda que se fechem várias portas na cidade, outras se abrem. E uma cidade com pouca tradição de comida de rua começa a despertar para o que por aqui se chama “comida de passo”: um sanduiche de linguiça, uma empanada quentinha, um pedaço de pizza em algumas das legendárias pizzarias da Avenida Corrientes.
O cuidado apenas é com o excesso de peso na volta. E não será na bagagem...

 

Gabriela G. Antuneé jornalista. Morou nos EUA e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornal Clarín

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