sábado, 13 de setembro de 2014

Cartas de Buenos Aires: Uma escapadinha a Colônia del Sacramento


Gabriela Antunes
 Apenas 34 km separam a frenética Buenos Aires da bucólica Colônia del Sacramento, no Uruguai. Mas, por barco, é preciso ziguezaguear mais 13 km, pois as águas do rio da Prata não são lá muito profundas. Rasas e turvas, o rio em si não parece ser um atrativo natural. O mergulho é impossível, a visibilidade é nula, tanto que as caravelas que aí afundaram, aí ficaram.
De um lado, as poluídas baías argentinas, os portos da capital, uma cidade que dá as costas ao rio. Frenética, inquieta, impaciente, Buenos Aires morde a costa sem degustá-la. É certo que Puerto Madero, a Reserva da Costaneira e os carrinhos de comida em frente ao aeroporto Jorge Newberry tentam fazer com que o portenho e o turista não desdenhem de todo a orla portenha. Mas a verdade é que a cidade aprendeu a fechar-se em si, ignorando suas baías.
Se Buenos Aires tem um oposto, fica do outro lado do rio. A pacata Colônia del Sacramento, com suas influências portuguesas, passividade fluvial e bucolismo incorrigível também ignora sua vizinha metrópole, desdenhando o tempo e as modernidades cosmopolitas portenhas.
Uma hora de travessia parece uma ironia, uma viagem entre épocas distintas. Três grandes operadoras monopolizam o transporte entre Buenos Aires e Colônia: o Buquebus, com seus navios de porte transatlântico, a mais modesta Seacat e a menor de todas, Colônia Express. Os preços variam, mas a travessia não custa, com impostos, menos de 50 reais o trecho. Todas saem de locais perto de Puerto Madero.
Com frequências diárias, Colônia desponta como a escapadinha perfeita para mergulhar em outro tempo. E a primavera faz da viagem o momento perfeito para ver Buenos Aires do outro lado do rio. É possível ir e voltar em um mesmo dia, ou escapar por um fim de semana.
Fundada por ávidos portugueses em busca de uma rota de comércio mais ao sul do continente, em uma expedição que saiu do Rio de Janeiro, Colônia, com suas construções portuguesas, azulejos mouros e casas de pedras, não é totalmente inusitada ao olhar brasileiro. Mas suas suscetíveis invasões espanholas, francesas e sua posição geográfica fazem da mistura um bálsamo arquitetônico ajudado pelo rio, que deste lado, e apesar de barroso, não é poluído.
Não há muito que fazer, a não ser caminhar sem rumo pelas ruas de pedra, dedicar horas a um chá em um dos simpáticos cafés locais, contemplar o pôr do sol, deitar-se de ladinho no rio, escondendo-se por de trás de uma das ilhas.
Deixe seu relógio no quarto de alguma das pousadas locais porque o melhor de Colônia é não fazer nada, el “dolce far niente” que os uruguaios fazem com maestria entre siestas e chimarrões.

 
Fim de tarde em Colônia - Foto: Gabriela Antunes

Gabriela G. Antunes é jornalista. Morou nos EUA e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e hoje é uma das editoras da versão em português do jornaClarínEscreve aqui todos os sábados.

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