Já ouvi esta frase diversas vezes e ditas por pessoas de diferentes regiões da Alemanha. A minha primeira reação sempre foi de choque. Afinal de contas a afirmação vai contra tudo o que aprendi nas minhas aulas de Geografia. Mas a explicação que geralmente sucede tal afirmativa costuma fazer sentido.
A Alemanha tem culturas regionais muito fortes. Até 1871, nem existia um país unificado por aqui. O que entendemos por cultura germânica no Brasil costuma ser os costumes da região da Baviera.
Aquela cena típica de um alemão de Lederhose (aquela calça/bermuda de couro) entornando um caneco de um litro é bem distante do meu dia-a-dia, apesar da Oktoberfest estar se aproximando.
Berlim é a cidade diferente da Alemanha. Na época do muro de Berlim, uma cidade dividida. Ou no caso de Berlim Ocidental, ilhada, já que ficava completamente cercada pela Alemanha Oriental.
Naquela época, muitos jovens de toda a República Federativa alemã se mudavam para Berlim, porque o serviço militar não era obrigatório. Isto ajudou a cidade a ter esta cara tão marcada pela contestação e a contracultura.
Aqui é onde, na Alemanha, as regras são mais passíveis de serem quebradas e é aceitável até mesmo se atrasar. Mas nunca mais do que 15 minutos. Até dirigindo, os berlinenses são diferentes.
Entre as infrações mais comum por aqui, estão o estacionamento em fila dupla e o excesso de velocidade dentro das cidades.
E depois da reunificação, a cidade atraiu ainda mais investimento e pessoas de toda a Alemanha e de todo o mundo. A identidade de Berlim é, por isso, uma coisa difícil de se estabelecer.
A piada, inclusive, é que se você mora em Berlim há mais de dez anos, você já tem o direito de se intitular berlinense.
Para mim, ainda faltam oito invernos até que eu possa dizer, Ich bin ein Berliner (eu sou um berlinense), seja lá o que isso seja.
Moradores de Berlim Oriental se aglomeram em cima do muro que separava as duas Alemanhas, 10-11-1989 - Foto: Andreas von Lintel / AFP
Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão no Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs. Escreve qui todas as terças-feiras
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