A IGUALDADE, SEM COR NEM IDEOLOGIA
A coluna de Mauro Pereira
Antes, um intróito do Magu: Mais um cometimento deste que, sem desmerecer nenhum outro colaborador, todos imprescindíveis para estes coeditores, talvez seja nossa maior pena. Sem dúvida, a superior capacidade de nossos sagazes leitores lhes permite entender tudo. Só quis comentar por causa da produção cheia de falhas da Educação Brasileira que, para a maioria dos formados(?) não lhes permitirá alcançar a intelecção total do formoso texto. A compensar, talvez alguns, diante disto, se esforçarão por atingir, posteriormente e por esforço próprio, a derrubada dos altos parâmetros da “restrição interpretativa” e a aquisição do pleno conhecimento do vernáculo incomum que este redator apresenta, no que classifico de “um prazer em ler”. Pode até ser que alguns dirão que Magu é bajulador. E admito, sim, sou, quando me deparo com um redator conhecedor do léxico escorreito…
Dia desses ao assistir um vídeo dando conta da opinião corajosa de um jovem negro extravasando sua indignação com o indisfarçável viés eleitoreiro dos programas governamentais de cotas que beneficiam os brasileiros afro-descendentes, minha alma se encheu de júbilo e eu tive a certeza de que nem tudo está perdido nesse Brasil devastado nos últimos onze anos e oito meses pelo advento do lulopetismo. Ainda há luz a clarear nossa trajetória rumo à igualdade suficientemente capaz de não permitir que caiamos definitivamente no obscurantismo político e ideológico que tanto tem nos atormentado desde 1º de janeiro de 2003.
Sinceramente, eu ainda não consegui entender a criação do Ministério da Igualdade Racial, órgão governamental disfarçado de secretaria que traz no próprio nome a chaga do racismo, pois se partimos do pressuposto de que há raças a serem igualadas, mesmo que inadvertidamente estaremos concordando que existem ao menos duas raças distintas convivendo em solo brasileiro. Presumindo-se que uma delas seja a humana, fica a pergunta inescapável: qual será a outra a ser equiparada? A resposta eu não sei, talvez a ministra Luíza Bairros saiba. Eu só sei que sou branco por pura casualidade e brasileiro por mero capricho geográfico. Mas sou humano por imposição da raça. Da única raça, a humana!
Não podemos deixar de descartar, também, a pouca vontade, principalmente das duas últimas chefes daquela Pasta, de evitar um recrudescimento no relacionamento entre brancos e negros. Sem importar-se com as conseqüências, a então ministra Matilde Ribeiro não se constrangeu nenhum pouquinho ao afirmar que “não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural”. Já Luíza Bairros não deixou por menos e disparou: “Isso [ocupação de espaço pelos negros] provoca reação. Para muitas pessoas, parece perda de espaço. Isso demonstra como ser branco, na sociedade brasileira, implica em determinados privilégios em detrimento dos direitos dos negros em geral”.
Por mais que eu procure ser isento, me parece, no entanto, que as declarações infelizes dessas duas senhoras denotam a vontade de, antes de promover a igualdade, exercer a vingança.
Embora tenha procurado suavizar o tom provocativo, ainda assim é possível perceber o ranço racista que tem embasado a atuação desse ministério desde a sua criação. Foi assim com a ex-ministra Matilde Ribeiro que exortava o negro a se insurgir contra o branco e está sendo assim com Luíza Bairros que consegue enxergar padrões diferenciados de atrocidade na mesma miséria que flagela e mata os dois, sem distinção. E, pelo entrosamento entre o ministério e a presidência da República, tudo indica que assim será enquanto o PT estiver no poder, aumentando o vazio social que segrega e humilha não pela cor da pele, mas pela falta de moradia digna, pela ausência de uma educação de alto nível que privilegie o saber e dignifique o mérito, pela devastadora falência do sistema de saúde. Pela implacável e precária condição de vida sub-humana que infelicita milhões de brasileiros e vem deixando um aviltante rastro de sofrimento ao longo do caminho.
Acredito que seria muito mais produtivo se a ministra se despisse de sua fantasia de justiceira irrevogável e concentrasse toda a sua energia e recursos financeiros na promoção da igualdade social como único instrumento capaz de reparar distorções evitando, desta forma, que erros do passado possam justificar um acerto de contas no presente, com repercussões catastróficas no futuro.
Ao criar um ministério racista a partir da sua nomenclatura, segregacionista na ação e eleitoreiro na filosofia, o governo federal deu início a uma viagem insólita trafegando perigosamente pela contramão do bom senso. Flerta de modo perigoso com o imponderável, pois a igualdade do modo que está sendo proposta, dependendo dos interesses de quem a patrocina e do grau de tolerância de quem a administra, pode fugir do controle e transformar-se em núcleo oficial do ativismo racial escancarando a porta que dá entrada para o doloroso processo da perda da identidade que mantém unida uma nação e que facilita o acesso ao caminho mais curto para a desordem social. Jamais será cômico, pois tem tudo para ser trágico.
A igualdade entre os brasileiros só será alcançada a partir do momento em que as autoridades se derem conta que a brincadeira de governar já foi longe demais e passou a hora de abandonarem o sonho de tutela que as move, mas que a sociedade abomina e jamais lhes outorgou. O que os negros, e os brancos, menos precisam é da fabricação em série de mitos de araque que só se sustentam na propaganda oficial regada a bilhões de reais e cuja sobrevivência está condicionada à intensidade da miséria que prostra e alicia, nem, muito menos, do surgimento de heroínas de última hora em busca de notoriedade. O que os brasileiros necessitam é de um governo mais compromissado com a garantia de uma educação de qualidade que nivele por cima a garantia de oportunidades iguais, sem o cancro do paternalismo eleitoreiro nem a chancela preconcebida da inferioridade intelectual. Os brasileiros clamam é por um governo menos comprometido com a bandalheira e com a corrupção.
Por mais que se esforcem, as ministras em tempo algum conseguirão colocar sobre meus ombros o peso de uma tragédia cuja responsabilidade nunca foi minha, menos ainda me transformar em cúmplice da insensibilidade que sempre foi delas. Jamais farão me sentir constrangido por ser branco, quanto mais envergonhar-me dos negros, e negras, que eu tenho a honra e o privilégio de ter como amigos, que não se permitem afastar um milímetro sequer das suas raízes, mas não abrem mão do talento natural que os identifica e ultrapassa em muito as fronteiras do business pigmentado da consciência companheira e se complementa por inteiro no orgulho de serem brasileiros. Todos os dias. Tampouco irão persuadi-los de que sou eu o inimigo a ser abatido.
Seus argumentos vazios são incapazes de me convencer que minha tez mais aclareada me faz diferente de outro patrício. O que nos diferencia é o caráter, pois a retidão não é exclusividade nem do branco nem do negro. Minha fé inabalável na possibilidade tangível de um futuro mais venturoso é saber que nesse quesito o povo brasileiro, desprezada a inútil relevância da cor, é infinitamente mais confiável do que aqueles que o governam.
As injustiças têm que ser sanadas, sem que para isso se busque a implantação do rancor e da discórdia. Uma abjeção não justifica a outra. Sob a mesma bandeira que dá guarida à nossa brasilidade saberão conviver em paz, negros, brancos, amarelos e vermelhos. Apesar das Matildes, das Luízas e dos Luizes!
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