O GLOBO - 08/01
P.L.Travers era o pseudônimo com que a escritora australiana Helen Lybdon Goff assinava a série de romances infantis protagonizados por Mary Poppins. Não me lembro de Mary Poppins ser um personagem de sucesso no Brasil antes do lançamento do filme da Disney em 1964. Mas, na verdade, Travers escreveu, entre 1934 e 1989, oito livros sobre a babá voadora, todos muito populares na Grã-Bretanha. Walt Disney passou 20 anos tentando comprar os direitos de adaptação para o cinema das aventuras de Mary Poppins, mas a escritora nunca fechou negócio. Ela temia que uma adaptação hollywoodiana mudasse a personalidade de seus personagens, não queria que o o possível filme fosse um musical e rejeitava qualquer tentativa de transformar seus livros num desenho animado. Mas, em 1961, a vida financeira de Travers não estava muito saudável e ela vendeu os direitos, com a condição de que teria que aprovar o roteiro. Em 1961, saiu de Londres, onde estava radicada desde 1924, e passou duas semanas em Los Angeles trabalhando com Disney na pré-produção do filme. “Walt nos bastidores de Mary Poppins”, que estreia no Brasil no dia 7 de fevereiro, conta o que teria acontecido nessas duas semanas.
Com Tom Hanks no papel de Wald Disney (ele está muito bem, melhor que em “Capitão Phillips”, e deve ganhar uma indicação para o Oscar de melhor ator coadjuvante) e Emma Thompson como P.L.Travers (ótima, indicação garantida para melhor atriz, mas vai acabar perdendo o Oscar para Cate Blachet em “Blue Jasmine”), o filme tem muito pouco a ver com o título que recebeu no Brasil. “Saving Mr. Banks”, o original, é uma referência ao “pai’ das histórias de Travers, um personagem inspirado em seu próprio pai. O filme mostra duas narrativas. Na primeira, os tais bastidores de Mary Poppins do título brasileiro. Na outra, a infância de Travers, na Austrália, com o pai alcoólatra, a mãe sofredora e uma tia que era a Mary Poppins em pessoa. Nos bastidores, Travers trabalha para salvar no roteiro a imagem de seu personagem e, no fim das contas, salvar a imagem do próprio pai.
“Walt nos bastidores de Mary Poppins’ é sensível como poucos filmes dessas temporadas de Oscar sabem ser. Se superar a esquisitice do título brasileiro, o espectador certamente vai se emocionar.
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O ano mal começou e a televisão britânica já tem um fenômeno de audiência em 2014. O país parou no dia 1º para ver o primeiro episódio da terceira temporada de “Sherlock”, a série de TV que traz para a Londres de hoje o personagem de Arthur Conan Doyle. “Sherlock” é um sucesso de audiência desde sua estreia em 2010. Mas o episódio da semana passada tinha um apelo a mais para atrair 9,2 milhões de espectadores (a maior audiência do programa desde seu lançamento). Afinal, a última vez que Sherlock foi visto, no último episódio da segunda temporada, ele estava... morto. Isso foi há dois anos. Portanto, há dois anos os espectadores consideravam a série encerrada. A curiosidade era justificada. Como os roteiristas resolveriam o caso? Como Sherlock ressuscitaria? O episódio apresentou três alternativas para a ressurreição de Sherlock. Nenhuma convenceu muito o público. Ninguém entendeu muito bem qual das três deveria ser considerada a verdadeira. Mas o programa bombou.
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Não vou bancar o chato e dizer que não gostei de “A grande beleza”, o filme italiano que vem conquistando público e crítica. Não fiquei embasbacado, como todo mundo, mas gostei do filme. Diante da dieta de filmes americanos tolos que a gente se sente na obrigação de ver nesta época do ano só porque estão dizendo que talvez eles sejam candidatos ao Oscar, “A grande beleza”, provável candidato a melhor filme estrangeiro, é um refresco. O problema é que... é tão anos 60! A estética, as questões, a crítica, a Itália, tudo parece saído de um filme que foi visto 50 anos atrás. Bem, muita gente que está babando o filme não tinha nem nascido 50 anos atrás. Tudo bem que se deslumbrem com o que aparentemente é novo. Mas as locadoras de vídeo, as emissoras de televisão a cabo, a pirataria na internet estão aí para cobrir esse buraco. “A grande beleza” é tudo isso que estão dizendo. Mas é também irremediavelmente velho.
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Outro dia, falando de Coccinelle, falei também de calças rancheiras. Foi isso que valeu o e-mail do leitor Allan Assrany: “Aqui em Belo Horizonte, as rancheiras eram conhecidas como calças faroeste, e o Colégio Santo Agostinho, além de proibir o seu uso, colocavam um irmão na entrada para levantar um perna de nossas calças e averiguar se não usávamos keds (tênis, só mais tarde).”
Esse negócio de irmão levantar a perna da calça de aluno, hoje em dia dá processo.
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Leio que, após uma menina de três anos cair de uma altura de sete metros dentro do Galeão, fiscais do Procon visitaram o aeroporto e descobriram que o ar condicionado não funciona, que os elevadores estão parados, que o bebedouros não têm água, que a esteira que liga o Terminal 1 ao 2 tem uma canaleta quebrada... Vem cá, precisava ocorrer um acidente para o Procon descobrir o que qualquer carioca já sabe há alguns anos?
P.L.Travers era o pseudônimo com que a escritora australiana Helen Lybdon Goff assinava a série de romances infantis protagonizados por Mary Poppins. Não me lembro de Mary Poppins ser um personagem de sucesso no Brasil antes do lançamento do filme da Disney em 1964. Mas, na verdade, Travers escreveu, entre 1934 e 1989, oito livros sobre a babá voadora, todos muito populares na Grã-Bretanha. Walt Disney passou 20 anos tentando comprar os direitos de adaptação para o cinema das aventuras de Mary Poppins, mas a escritora nunca fechou negócio. Ela temia que uma adaptação hollywoodiana mudasse a personalidade de seus personagens, não queria que o o possível filme fosse um musical e rejeitava qualquer tentativa de transformar seus livros num desenho animado. Mas, em 1961, a vida financeira de Travers não estava muito saudável e ela vendeu os direitos, com a condição de que teria que aprovar o roteiro. Em 1961, saiu de Londres, onde estava radicada desde 1924, e passou duas semanas em Los Angeles trabalhando com Disney na pré-produção do filme. “Walt nos bastidores de Mary Poppins”, que estreia no Brasil no dia 7 de fevereiro, conta o que teria acontecido nessas duas semanas.
Com Tom Hanks no papel de Wald Disney (ele está muito bem, melhor que em “Capitão Phillips”, e deve ganhar uma indicação para o Oscar de melhor ator coadjuvante) e Emma Thompson como P.L.Travers (ótima, indicação garantida para melhor atriz, mas vai acabar perdendo o Oscar para Cate Blachet em “Blue Jasmine”), o filme tem muito pouco a ver com o título que recebeu no Brasil. “Saving Mr. Banks”, o original, é uma referência ao “pai’ das histórias de Travers, um personagem inspirado em seu próprio pai. O filme mostra duas narrativas. Na primeira, os tais bastidores de Mary Poppins do título brasileiro. Na outra, a infância de Travers, na Austrália, com o pai alcoólatra, a mãe sofredora e uma tia que era a Mary Poppins em pessoa. Nos bastidores, Travers trabalha para salvar no roteiro a imagem de seu personagem e, no fim das contas, salvar a imagem do próprio pai.
“Walt nos bastidores de Mary Poppins’ é sensível como poucos filmes dessas temporadas de Oscar sabem ser. Se superar a esquisitice do título brasileiro, o espectador certamente vai se emocionar.
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O ano mal começou e a televisão britânica já tem um fenômeno de audiência em 2014. O país parou no dia 1º para ver o primeiro episódio da terceira temporada de “Sherlock”, a série de TV que traz para a Londres de hoje o personagem de Arthur Conan Doyle. “Sherlock” é um sucesso de audiência desde sua estreia em 2010. Mas o episódio da semana passada tinha um apelo a mais para atrair 9,2 milhões de espectadores (a maior audiência do programa desde seu lançamento). Afinal, a última vez que Sherlock foi visto, no último episódio da segunda temporada, ele estava... morto. Isso foi há dois anos. Portanto, há dois anos os espectadores consideravam a série encerrada. A curiosidade era justificada. Como os roteiristas resolveriam o caso? Como Sherlock ressuscitaria? O episódio apresentou três alternativas para a ressurreição de Sherlock. Nenhuma convenceu muito o público. Ninguém entendeu muito bem qual das três deveria ser considerada a verdadeira. Mas o programa bombou.
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Não vou bancar o chato e dizer que não gostei de “A grande beleza”, o filme italiano que vem conquistando público e crítica. Não fiquei embasbacado, como todo mundo, mas gostei do filme. Diante da dieta de filmes americanos tolos que a gente se sente na obrigação de ver nesta época do ano só porque estão dizendo que talvez eles sejam candidatos ao Oscar, “A grande beleza”, provável candidato a melhor filme estrangeiro, é um refresco. O problema é que... é tão anos 60! A estética, as questões, a crítica, a Itália, tudo parece saído de um filme que foi visto 50 anos atrás. Bem, muita gente que está babando o filme não tinha nem nascido 50 anos atrás. Tudo bem que se deslumbrem com o que aparentemente é novo. Mas as locadoras de vídeo, as emissoras de televisão a cabo, a pirataria na internet estão aí para cobrir esse buraco. “A grande beleza” é tudo isso que estão dizendo. Mas é também irremediavelmente velho.
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Outro dia, falando de Coccinelle, falei também de calças rancheiras. Foi isso que valeu o e-mail do leitor Allan Assrany: “Aqui em Belo Horizonte, as rancheiras eram conhecidas como calças faroeste, e o Colégio Santo Agostinho, além de proibir o seu uso, colocavam um irmão na entrada para levantar um perna de nossas calças e averiguar se não usávamos keds (tênis, só mais tarde).”
Esse negócio de irmão levantar a perna da calça de aluno, hoje em dia dá processo.
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Leio que, após uma menina de três anos cair de uma altura de sete metros dentro do Galeão, fiscais do Procon visitaram o aeroporto e descobriram que o ar condicionado não funciona, que os elevadores estão parados, que o bebedouros não têm água, que a esteira que liga o Terminal 1 ao 2 tem uma canaleta quebrada... Vem cá, precisava ocorrer um acidente para o Procon descobrir o que qualquer carioca já sabe há alguns anos?
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