sábado, 28 de dezembro de 2013

2013: Dilma estatiza o crédito - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 27/12

Presidente acelerou crescimento da banca pública, desde junho com mais de 50% do crédito


2013 foi um ano de estatização do crédito no Brasil. Foi também mais um ano de queixas empresariais contra o excesso de Estado e mais um ano em que as empresas se fartaram de dinheiro baratinho da banca estatal.

Em junho, os bancos públicos passaram a ter mais de 50% do total do dinheiro emprestado no país (do estoque de crédito). Desde agosto de 2000, o conjunto dos bancos privados era maior que o dos estatais, resultado do bom programa de FHC de liquidar ou vender bancos estatais escandalosamente quebrados.

A participação da banca pública no mercado de crédito baixaria a 34% no início de 2008, governo Lula. A crise que explodiu no mundo em setembro de 2008 provocaria um revertério no crédito e, enfim, na política econômica do PT. Dilma Rousseff acelerou as mudanças.

O governo comprou mercado para os bancos públicos. Tomou mais dinheiro emprestado e o reemprestou ao BNDES, por exemplo. Decretou a baixa dos juros do BNDES e mandou Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal fazerem o mesmo.

Em dezembro de 2007, os empréstimos do governo federal para bancos oficiais equivaliam a 0,5% do PIB. Em outubro passado, a 9,3% do PIB (R$ 439 bilhões).

Até agora, nos anos Dilma, 67,5% do aumento do estoque de crédito veio dos bancos estatais. Neste 2013, os bancos públicos foram responsáveis por quase 76% do aumento do total de dinheiro emprestado.

O BNDES empresta a juro real zero ou menos que isso (descontada a inflação, a taxa de juro é zero). Muito empresário chiou quando o governo reajustou em um tico as taxas de juros (muitas ainda abaixo de zero), agora no final do ano.

Como é possível que um negócio não dê retorno mesmo quando financiado a juro zero? Não é possível. Isso não faz sentido: sem doação de dinheiro, o negócio em tese não para em pé.

O custo da dinheirama barata cai na conta do país inteiro. Eleva a dívida pública. Custa caro a diferença entre o juro que o governo paga e recebe do BNDES. Há o descrédito causado pelo endividamento e a confusão crescentes nas contas públicas.

Nos anos Lula, após 2008, o aumento do crédito público serviu em especial para cobrir a falta de crédito privado para empresas (e, razoavelmente, para evitar um colapso pós-crise). Nos anos Dilma, para turbinar o crédito para pessoas físicas.

Depois de 2008, as grandes empresas abertas ficaram bem de caixa, "capitalizadas". Além do mais, parcela maior do investimento (em capital) das empresas dependeu mais do BNDES. Mas o investimento como proporção do PIB cresceu pouco.

É difícil estimar quanto investimento não teria sido realizado sem o dinheiro baratinho do governo. As empresas talvez investissem de qualquer modo: só trocaram dinheiro mais caro por mais barato, subsidiado pelo governo, nós todos. Mas a história é mais complicada ainda.

Se o governo não tivesse feito dívida monstruosa para irrigar a banca pública, a vida seria outra. Os juros seriam menores, na média, em toda a praça. A situação das contas do governo seria outra. É um troço difícil de pensar, pois.

O que a gente sabe é que, apesar da monstruosa dívida extra e do juro zero, o país não está agora mais preparado para crescer mais rápido.

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