GAZETA DO POVO - PR - 28/12
Em matéria de balanços e retrospectos anuais, a Economist surpreendeu novamente ao oferecer aos céticos e estressados espalhados pelo mundo nova e alentadora avaliação. Otimista, esperançosa – eminentemente jornalística –, a nova aferição é plural, premia apenas os grandes coletivos. Com isso, diz o último editorial do ano numa estocada na decadente competidora (a americana Time), evita-se celebrar, como o Homem do Ano, um tirano como Vladimir Putin (2007) ou um satânico Adolf Hitler (1938).
Focado em façanhas e fenômenos econômicos, o secular jornal (como orgulhosamente se classifica) despreza de forma ostensiva a deletéria econometria com seus enganosos arranjos, índices e rankings numéricos. Escapa assim de nomear o Sudão do Sul como campeão do PIB – aumento esperado de 30% em 2013, por causa de uma queda de 55% no ano anterior.
A preferência – evidentemente política – procura escapar de eventuais armadilhas da realpolitik caso a Ucrânia recebesse o galardão em detrimento do seu povo gelando nas ruas de Kiev para derrubar o caudilho Viktor Yanukovich, sobrevivente da “revolução laranja” contra suas fraudes eleitorais.
O critério básico para a escolha do “País do Ano” são as inovações capazes de inspirar outras nações e, assim, pelo exemplo e emulação, melhorar o mundo. A palavra não é mencionada para evitar preconceitos, mas este campeonato criado pela Economist pela primeira vez na história do jornalismo destina-se a escolher a “Utopia do Ano”: o Uruguai.
Chamada de “Suíça do Atlântico Sul” na primeira metade do século passado, esmagada por dois gigantescos vizinhos e arrasada por uma feroz ditadura militar que se alongou durante 12 anos, voltou a ser uma nação econômica e politicamente sólida, social-democrata, secular, imunizada contra os delírios infantis que campeiam à volta.
O presidente José Mujica ficou preso 14 anos e, depois de libertado, tal como Mandela, soube estimular a conciliação e a reconciliação. No Brasil, a simplicidade e o encanto do estadista uruguaio manifestam-se quando vai de sandálias a uma solenidade oficial, com as unhas malcuidadas à mostra. Já os jornalistas da Economist preferem louvar a sua humildade ao considerar como “experiência” a avançada legislação recém-aprovada que legaliza e regula a produção, distribuição e consumo da maconha, uma formidável reversão no combate ao crime organizado.
O respeito internacional não se adquire em showrooms internacionais: esta é a mensagem embutida na escolha do Economist. A passarela de Davos, na Suíça, não fabrica admirações, nem consagra lideranças. Carisma é algo que vem de dentro, está no olhar, no gesto, na entonação, mesmo quando não se entende o que está sendo prometido ou sonhado.
A redação da Economist lançou no mercado das percepções uma nova Copa do Mundo. E o Uruguai nos bateu novamente.
Em matéria de balanços e retrospectos anuais, a Economist surpreendeu novamente ao oferecer aos céticos e estressados espalhados pelo mundo nova e alentadora avaliação. Otimista, esperançosa – eminentemente jornalística –, a nova aferição é plural, premia apenas os grandes coletivos. Com isso, diz o último editorial do ano numa estocada na decadente competidora (a americana Time), evita-se celebrar, como o Homem do Ano, um tirano como Vladimir Putin (2007) ou um satânico Adolf Hitler (1938).
Focado em façanhas e fenômenos econômicos, o secular jornal (como orgulhosamente se classifica) despreza de forma ostensiva a deletéria econometria com seus enganosos arranjos, índices e rankings numéricos. Escapa assim de nomear o Sudão do Sul como campeão do PIB – aumento esperado de 30% em 2013, por causa de uma queda de 55% no ano anterior.
A preferência – evidentemente política – procura escapar de eventuais armadilhas da realpolitik caso a Ucrânia recebesse o galardão em detrimento do seu povo gelando nas ruas de Kiev para derrubar o caudilho Viktor Yanukovich, sobrevivente da “revolução laranja” contra suas fraudes eleitorais.
O critério básico para a escolha do “País do Ano” são as inovações capazes de inspirar outras nações e, assim, pelo exemplo e emulação, melhorar o mundo. A palavra não é mencionada para evitar preconceitos, mas este campeonato criado pela Economist pela primeira vez na história do jornalismo destina-se a escolher a “Utopia do Ano”: o Uruguai.
Chamada de “Suíça do Atlântico Sul” na primeira metade do século passado, esmagada por dois gigantescos vizinhos e arrasada por uma feroz ditadura militar que se alongou durante 12 anos, voltou a ser uma nação econômica e politicamente sólida, social-democrata, secular, imunizada contra os delírios infantis que campeiam à volta.
O presidente José Mujica ficou preso 14 anos e, depois de libertado, tal como Mandela, soube estimular a conciliação e a reconciliação. No Brasil, a simplicidade e o encanto do estadista uruguaio manifestam-se quando vai de sandálias a uma solenidade oficial, com as unhas malcuidadas à mostra. Já os jornalistas da Economist preferem louvar a sua humildade ao considerar como “experiência” a avançada legislação recém-aprovada que legaliza e regula a produção, distribuição e consumo da maconha, uma formidável reversão no combate ao crime organizado.
O respeito internacional não se adquire em showrooms internacionais: esta é a mensagem embutida na escolha do Economist. A passarela de Davos, na Suíça, não fabrica admirações, nem consagra lideranças. Carisma é algo que vem de dentro, está no olhar, no gesto, na entonação, mesmo quando não se entende o que está sendo prometido ou sonhado.
A redação da Economist lançou no mercado das percepções uma nova Copa do Mundo. E o Uruguai nos bateu novamente.
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