Transcrito do Blog do Giulio Sanmartini
23/10/2013
Mais ao sul da América, localiza-se um país de dimensões continentais conhecido como Brasil. Privilegiado por uma geografia cúmplice, destaca-se não só pela beleza selvagem de matas intocadas, refúgio sagrado da fauna e da flora, mas, também, pela sinuosidade de serras bucólicas entrecortadas por rios piscosos de águas cristalinas cujo silêncio arrebatador dá o toque final à tela esplendorosa que, no auge da inspiração, a natureza pintou. A emoldurá-la, a costa litorânea exuberante.
Desde os primórdios de sua descoberta há mais de 500 anos, seus habitantes destemidos sempre resistiram bravamente às incursões criminosas de aventureiros originários de paragens longínquas, porém, inexplicavelmente, jamais conseguiram demonstrar a mesma valentia no enfrentamento aos seus governantes via de regra corruptos e oportunistas que têm solapado suas riquezas e lhes impingido uma sequência notável de revezes e humilhações ao longo desses cinco séculos.
Acerca de uns trinta e poucos anos, surgia no cenário trabalhista desse gigante tropical uma figura diferente que representava a outra face dos rígidos padrões cultos e elitistas da época, pois sua origem fora parida nas profundas desletradas dos movimentos sindicais de então. Embasbacados com a surpresa, os intelectuais e a imprensa encantaram-se com aquela novidade rústica e de comportamento quase pré-histórico encurtando sua trajetória rumo à notoriedade pessoal e à ascensão social, contribuindo de forma decisiva na consolidação de uma das mais meteóricas, e controversas, lideranças políticas. No entanto, apesar das mesuras e dos afagos que se multiplicavam, seu semblante invariavelmente embrutecido parecia alimentar-se de um ódio incontrolável que denunciava o brilho fosco da alma deserta de alegria e vazia de paz.
Com o passar dos anos firmou-se como proprietário absoluto do partido político que criara e que o conduziria a etapas de sua existência que a origem humilde jamais ousara sonhar. Tornara-se presidente da República! Havia chegada a hora do ajuste de contas com as zelites preconceituosas, com os loiros de olhos azuis e, mais particularmente, com um certo professorzinho cultuado pela intelectualidade internacional que lhe havia aplicado duas humilhantes derrotas em outras eleições, ambas no primeiro turno.
Extasiado com o conto de fadas inesperado do qual era caroneiro ocasional, desfez-se de vez da fantasia de socialista convicto e mergulhou de cabeça nas delícias e nos prazeres propiciados pelo capitalismo. Insatisfeito em ser apenas dono de uma legenda partidária, alçou voos mais ousados e, determinado em acrescentar a propriedade de um país ao seu já vasto acervo particular, juntou-se à escória que perambulava pelo submundo da política local exercendo um dos governos que, se não o mais corrupto – uma multidão afirma que foi – com certeza o mais promíscuo que se teve notícias em plagas brasileiras. Entretanto, nem mesmo seu desempenho notável nas urnas conseguindo reeleger-se presidente e eleger sua sucessora foi capaz de aplacar o rancor que ainda consome suas entranhas, quase todo devotado àquele senhor octogenário de educação esmerada que povoa os seus mais terríveis pesadelos.
Vitimado por essas ciladas do destino, recentemente foi acometido por uma enfermidade que debilitou-lhe as cordas vocais, seu principal instrumento de trabalho. Conformado, decidiu que continuaria a exercitar sua supremacia através de bilhetes. Foi aí que se deu conta da inutilidade dos diplomas que ganhara às baciadas de universidades ordinariamente vassalas.
Desde os primórdios de sua descoberta há mais de 500 anos, seus habitantes destemidos sempre resistiram bravamente às incursões criminosas de aventureiros originários de paragens longínquas, porém, inexplicavelmente, jamais conseguiram demonstrar a mesma valentia no enfrentamento aos seus governantes via de regra corruptos e oportunistas que têm solapado suas riquezas e lhes impingido uma sequência notável de revezes e humilhações ao longo desses cinco séculos.
Acerca de uns trinta e poucos anos, surgia no cenário trabalhista desse gigante tropical uma figura diferente que representava a outra face dos rígidos padrões cultos e elitistas da época, pois sua origem fora parida nas profundas desletradas dos movimentos sindicais de então. Embasbacados com a surpresa, os intelectuais e a imprensa encantaram-se com aquela novidade rústica e de comportamento quase pré-histórico encurtando sua trajetória rumo à notoriedade pessoal e à ascensão social, contribuindo de forma decisiva na consolidação de uma das mais meteóricas, e controversas, lideranças políticas. No entanto, apesar das mesuras e dos afagos que se multiplicavam, seu semblante invariavelmente embrutecido parecia alimentar-se de um ódio incontrolável que denunciava o brilho fosco da alma deserta de alegria e vazia de paz.
Com o passar dos anos firmou-se como proprietário absoluto do partido político que criara e que o conduziria a etapas de sua existência que a origem humilde jamais ousara sonhar. Tornara-se presidente da República! Havia chegada a hora do ajuste de contas com as zelites preconceituosas, com os loiros de olhos azuis e, mais particularmente, com um certo professorzinho cultuado pela intelectualidade internacional que lhe havia aplicado duas humilhantes derrotas em outras eleições, ambas no primeiro turno.
Extasiado com o conto de fadas inesperado do qual era caroneiro ocasional, desfez-se de vez da fantasia de socialista convicto e mergulhou de cabeça nas delícias e nos prazeres propiciados pelo capitalismo. Insatisfeito em ser apenas dono de uma legenda partidária, alçou voos mais ousados e, determinado em acrescentar a propriedade de um país ao seu já vasto acervo particular, juntou-se à escória que perambulava pelo submundo da política local exercendo um dos governos que, se não o mais corrupto – uma multidão afirma que foi – com certeza o mais promíscuo que se teve notícias em plagas brasileiras. Entretanto, nem mesmo seu desempenho notável nas urnas conseguindo reeleger-se presidente e eleger sua sucessora foi capaz de aplacar o rancor que ainda consome suas entranhas, quase todo devotado àquele senhor octogenário de educação esmerada que povoa os seus mais terríveis pesadelos.
Vitimado por essas ciladas do destino, recentemente foi acometido por uma enfermidade que debilitou-lhe as cordas vocais, seu principal instrumento de trabalho. Conformado, decidiu que continuaria a exercitar sua supremacia através de bilhetes. Foi aí que se deu conta da inutilidade dos diplomas que ganhara às baciadas de universidades ordinariamente vassalas.
Foi nesse período de provação que estreitou, ainda mais, seu relacionamento com o velho amigo de campanhas memoráveis, aliás, o único que goza até hoje de sua confiança plena. Trata-se do cãozinho de estimação que ganhou no dia de sua primeira posse presidencial ao qual deu o nome de Petê. A fidelidade canina acima de qualquer suspeita transborda o seu orgulho e é sob as luzes dos holofotes e das câmeras televisivas que gosta de exibir o domínio que exerce sobre o animal. Faz questão de convocar a imprensa, a militante, para demonstrar as habilidades do companheiro. Basta um único comando seu e Petê realiza a proeza:
- Em pé! – Incontinente, Petê levanta ávido para satisfazer a vontade do dono.
- Deita! – Abanando o rabo de felicidade, Petê deita, submisso.
- Senta! – De imediato Petê senta, obediente.
- Rola! – Instintivamente Petê rola, sem contrariar a ordem.
Porém, consternado com a doença degenerativa gravíssima que há oito anos devasta seu parceiro de estripulias, diagnosticada pelos veterinários como “corruptelas mensalérias”, o único comando que o proprietário de Petê jamais deu ao inseparável amigo foi o de “se finge de morto, Petê”. Ele sabe que, por uma questão de sobrevivência, desde 2005 Petê se finge de vivo.
Atendido pelos mais renomados médicos especialistas do Hospital Circo Libanês recuperou a saúde da voz roufenha e, plenamente curado, voltou com as forças redobradas a fazer aquilo que sempre fez de melhor: assombrar as instituições, disseminar o ódio entre os brasileiros e praticar políticalha rasteira. A tiracolo, o dócil e servil camarada.
- Em pé! – Incontinente, Petê levanta ávido para satisfazer a vontade do dono.
- Deita! – Abanando o rabo de felicidade, Petê deita, submisso.
- Senta! – De imediato Petê senta, obediente.
- Rola! – Instintivamente Petê rola, sem contrariar a ordem.
Porém, consternado com a doença degenerativa gravíssima que há oito anos devasta seu parceiro de estripulias, diagnosticada pelos veterinários como “corruptelas mensalérias”, o único comando que o proprietário de Petê jamais deu ao inseparável amigo foi o de “se finge de morto, Petê”. Ele sabe que, por uma questão de sobrevivência, desde 2005 Petê se finge de vivo.
Atendido pelos mais renomados médicos especialistas do Hospital Circo Libanês recuperou a saúde da voz roufenha e, plenamente curado, voltou com as forças redobradas a fazer aquilo que sempre fez de melhor: assombrar as instituições, disseminar o ódio entre os brasileiros e praticar políticalha rasteira. A tiracolo, o dócil e servil camarada.
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