Importantes revelações sobre a guerrilha que o PCdoB (nada a ver com este de hoje) montou na região do Araguaia (PA), entre 1971 e 73, vieram do general de brigada, na reserva, Álvaro de Souza Pinheiro em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV).
“Morrer pela pátria é amadorismo. Matamos pela pátria!”, admitiu. “O Exército tinha a obrigação de neutralizar rápido e completo (o foco)”, falou, de forma reticente, a dois representantes da Comissão o ex-tenente no Pará, que depois veio a comandar as Forças Especiais do Exército.
Aposentado em 2003, Álvaro, em testemunho que a CNV mantém secreto, falou em sessão realizada em numa tarde de novembro no Arquivo Nacional, Rio. O diálogo foi vazado (está, por exemplo, aqui) e registrado pelo repórter Vasconcelo Quadros, do IG, o único jornalista brasileiro a cobrir permanente e seriamente as investigações da CNV.
O hoje consultor militar tentou dissuadir a busca pelos restos mortais dos combatentes do PCdoB: “É uma guerra inglória tentar saber onde estão enterrados”, disse, desdenhando da CNV. Do inquérito, além das informações que Álvaro deixou escapar, emergem duas questões:
Álvaro de Souza Pinheiro, general
1. Por que a CNV toma depoimentos reservados? Eles não contribuem para o processo social de investigações sobre os crimes da ditadura. Além de investigar, a CNV também precisa ser pedagógica. Vazamentos não são pedagógicos;
2. Álvaro, que em 85 era oficial de ligação do Exército com o Centro de Armas Combinadas e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA, escreveu em artigo para o Escritório de Estudos Militares Estrangeiros daquele país que a FAB usou napalm no Araguaia (ler aqui).
Apesar de ter-se aposentado, está longe de ser um militar de pijama. Continua a dar lições de guerra suja a oficiais do Exército. Como em 15 de abril passado, quando falou na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Rio, ao 2º Ano do Curso de Comando e Estado-Maior.
Em dezembro de 2010, foi entrevistado pelo programa Canal Livre, da TV Bandeirantes, acerca da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio, por forças militares. É atuante e emblemático do tipo de força militar que o Brasil usa contra sua própria sociedade. Antes de depor à CNV, circulou entre amigos, em 16 de novembro, texto em que chama a Comissão de “comunistas de merda”.
Álvaro e a sua ideologia de ódio, que continua sendo absorvida e aplicada pelo Exército, são peças explosivas da ditadura de 64 que ainda precisam ser desarmadas – há muitas outras, em verdade. Mas, com depoimentos secretos e vazamentos, a CNV não contribui em nada para isso.
Carlos Tautz, jornalista, é o coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empres
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