Anne Hidalgo ocupa o cargo pomposo de Primeira Secretária, responsável do Urbanismo e da Arquitetura da Prefeitura de Paris, o que faz dela uma das mais próximas colaboradoras de Bertrand Delanoë, atual prefeito.
No inicio do mês de setembro, ela saiu de seu relativo anonimato e anunciou sua candidatura à Prefeitura de Paris. Desde então, se tornou um personagem público e uma das protagonistas da paisagem política francesa. E, como todos os seus camaradas políticos, adulada por uns e detestada por outros.
Filha de imigrantes espanhóis, Anne Hidalgo possui um CV familiar cujo destino foi determinado pela guerra. O avô republicano, decidido a fugir da guerra civil espanhola, fez o trajeto entre a Espanha e a França montado numa pequena mula. Finalmente, ele foi condenado à morte, mas não chegou a ser executado. A família recomeçou uma nova vida na França e vinte três anos depois nasceu Anne Hidalgo.
Antes da vida política, Hidalgo exercia a função de inspetora do trabalho. O que, segundo ela, lhe deu um certo conhecimento do terreno. Depois de ter anunciado sua candidatura, ela tem tentado unir seus adversários internos. A melhor solução nesse caso é adotar a velha tática de guerra: "se você não pode vencer o(s) inimigo(s), junte-se a ele(s)". Assim, ela os incluiu, um a um, em sua campanha.
Anne Hidalgo, candidata à Prefeitura de Paris
Seus inimigos políticos são, em grande parte, membros do partido de direita UMP, e do partido dos Ecologistas EELV. Eles a acusam de sua incapacidade de escuta, de sectarismo, de desdenho e de ter uma "mão de ferro numa luva de veludo".
Seus aliados a descrevem como sendo determinada e trabalhadora. O fato é que Anne Hidalgo faz pensar naqueles animais políticos discretos, que não gostam de chamar a atenção e, de uma hora pra outra, dão o pulo do gato. Ou naqueles corredores que avançam sem fazer muito barulho. De um momento ao outro eles aparecem com toda a autoridade que lhes conferiu o combate.
No seu programa de governo - apresentado há dias atrás - percebe-se uma inspiraçãodelanoëliana. Ela afirma ter grandes projetos em mente, mas o orçamento é sóbrio, fruto de tempos austeros. Ela pretende plantar frutas e legumes em 100 hectares dos tetos da capital.
Os vélibs, bicicletas públicas (um projeto de Delanoë que obteve uma adesão enorme dos parisienses) deverão ser elétricos. Ela propõe uma amplificação das linhas dotramway e o plantio de 2.000 árvores. Anne Hidalgo defende a construção de prédios na periferia, a possibilidade de se banhar no canal Ourcq e por aí vai. The sky is the limit... As ideias são atraentes, mas seriam elas realistas?
Uma coisa é certa: em tempos de crise, a população dispensa os discursos inflamados e aguarda ansiosamente por mudanças concretas. O tempo dirá a qual categoria de políticos Anne Hidalgo pertence.
Danielle Legras é jornalista e tem duas grandes paixões, seu métier e Paris. Há dez anos, decidiu unir o útil ao agradável. É a nova responsável pela seção semanal Cartas de Paris.
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