Rubens Menin, Presidente da MRV
Essa é uma pergunta fácil de ser respondida. O difícil é corrigir essa distorção. As coisas são caras aqui, em decorrência de dois fatores principais: a nossa produtividade é muito baixa em quase todos os setores e somos afetados pelo chamado “Custo Brasil”, que onera a produção nacional e, até mesmo, a importação de itens com origens externas. A nossa produtividade é baixa por muitas causas, mas as principais são a burocracia, a regulamentação antiga e imprópria e a falta de infraestrutura e das demais facilidades que garantiriam maior eficiência. O “Custo Brasil” é um valor adicional que é gasto por todos os que se dispõem a produzir em nosso país e que resulta, entre outros fatores, da nossa opção política em favor de sustentar um Estado enorme e acima de tudo, muito caro. A elevadíssima carga tributária necessária para sustentar esse modelo é apenas a consequência inevitável das nossas escolhas.
Havia e ainda há uma enorme expectativa para o lançamento, entre nós, de dois produtos eletrônicos que, no mundo todo, converteram-se em objeto de desejo: o Playstation 4 e o novo iPad 5. No entanto, o preço destes produtos no Brasil é quatro vezes maior do que nos respectivos países de origem. Essa distorção não acontece apenas com esses dois campeões de popularidade. A mesma diferença ocorre também com quase todos os produtos importados, desde automóveis até peças de vestuário, passando por itens de maquiagem e cosméticos, por aparelhos eletroeletrônicos e por toda uma variada linha de bens produzidos em outros países. Essa situação estende-se, também ao setor de serviços e à indústria do turismo. Convertemo-nos em um país onde fica mais barato viajar para o exterior do que curtir as nossas belezas nacionais. Ou, ainda, em um país cujos habitantes preferem usar as suas férias anuais em viagens de compras no exterior, livres de impostos, mas com volumes de gastos e sangria financeira batendo sucessivos recordes.
Incompreensivelmente, muitas pessoas parecem não se dar conta dessa situação. Por isso, utilizei esses exemplos mais visíveis. Poderia acrescentar outros para mostrar como essa distorção afeta as possibilidades de escolha do cidadão brasileiro e a competitividade da nossa indústria. Atualmente, não temos mais condições de competição até mesmo com outras nações emergentes ou que apresentem economias menos avançadas do que a nossa. Muitas vezes, produtos nacionais exportados para outras nações têm preço de venda muito menor no país importador do que no Brasil. Um exemplo dessa situação é o carro Siena 1.4 – fabricado em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte – que é vendido internamente por um preço da ordem de R$ 45 mil e que pode ser encontrado nas concessionárias do Chile por cerca de R$ 25 mil. Quantos brasileiros deixaram de comprar esse carro por causa desse absurdo acréscimo de 80% nos preços internos?
Só conseguiremos sair desse impasse e fugir da espada que pende sobre as nossas cabeças com uma corajosa e ampla mudança de modelo. Temos que buscar a eficiência e a competitividade. Temos que eliminar, ou pelo menos diminuir significativamente, a burocracia infernal que se instalou entre nós. Temos que reformar, aperfeiçoar e reduzir a ciclópica máquina pública, cada vez mais voraz na arrecadação dos impostos e taxas necessários para sustentá-la. Mais do que nunca, o nosso foco deverá se concentrar na sábia recomendação: temos que fazer mais com menos e, se possível, fazer melhor. Se melhorarmos a nossa produtividade geral e se simplificarmos o burocrático ambiente econômico nacional, os preços dos produtos fabricados aqui se aproximarão, inevitavelmente, daqueles praticados no exterior. Além de sobrevivermos como país viável, certamente observaremos um nível maior de prosperidade, conforto e segurança para os brasileiros.
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