sábado, 9 de novembro de 2013

Por que nunca ganhamos o Prêmio Nobel?

Rubens Menin, Presidente da MRV

Todo ano, a cada mês de outubro, aguardo o resultado dos laureados com o Prêmio Nobel nas áreas de Física, Química e Economia (concedidos pela Academia de Ciências da Suécia), de Medicina (concedido pelo Instituto Karolinska, a maior universidade médica da Suécia), de Literatura (concedido pela Academia de Letras da Suécia) e da Paz (concedido por um comitê do Parlamento da Noruega). Sempre torço para surgir um brasileiro entre os laureados, lavando a alma nacional, já que nunca tivemos essa honraria desde que o Prêmio foi distribuído pela primeira vez em 1901. Desde então, foram 840 pessoas ou organizações laureadas e nenhum brasileiro.
Essa absoluta ausência nacional entre os agraciados com o Nobel sempre me intrigou. Somos o único país entre os BRICS que jamais levou a premiação. Até mesmo os nossos vizinhos no continente já tiveram o seu momento de glória. Nós não. Mas, por quê? Se somos a sexta economia do mundo, se produzimos itens de razoável complexidade, se já alcançamos um nível cultural relativamente sofisticado e se somos 200 milhões de brasileiros (quase 3% da população mundial) por que nunca levantamos essa taça? Pelas leis da estatística, brasileiros já deveriam ter sido premiados com o Nobel, pelo menos 25 vezes. Esse é o tamanho do nosso atraso nessa corrida.
É verdade que existem injustiças mundialmente reconhecidas. Como a do paranaense César Lattes (o verdadeiro descobridor da partícula subatômica méson Pi, e de outros sucessos no campo da física) ou como a do mineiro Carlos Chagas (que além de descrever, detalhadamente, a etiologia da doença que levou o seu nome, é reconhecido, até hoje, como o mais importante pesquisador de enfermidades tropicais).
Podem ter ocorrido essas e outras injustiças. Mas, o fato é que estamos em débito nessa competição. As premiações cientificas, incluindo a de Medicina, retratam com fidelidade a organização e a excelência do ensino acadêmico nas diversas regiões ou países. Daí a grande concentração de premiados na Europa e nos EUA. Aliás, 257 laureados (30,6% do total) são pessoas nascidas nos EUA. É bem verdade que os norte-americanos investem muito mais que nós em educação superior. Mas, isso não explica, por si só, a nossa defasagem comparativa. Mais do que a diferença nos investimentos, prevalece a falta de qualidade do nosso ensino, penosamente custeado pelo esforço e pelos impostos dos brasileiros.
Fora das áreas científicas, ou seja, no campo da Literatura e na premiação pela Paz, o nosso desempenho é igualmente nulo. Há quem argumente que o uso da língua portuguesa nos isola da comunidade internacional. Premiações recentes no campo da Literatura, concedidas a escritores de línguas relativamente exóticas (pelo menos para o padrão ocidental) desqualificam esse tipo de argumentação. As causas são outras. Assim como as premiações científicas procuram destacar os avanços que efetivamente representem fatores de melhoria na vida das populações, os laureados na Literatura e na Paz também devem simbolizar ações ou processos que levem à harmonia, a compreensão e a boa convivência dos povos. E, nessas áreas, temos insistido com as candidaturas erradas, submetendo indicações fortemente ideologizadas à Fundação Nobel. Quase sempre são personalidades que desfrutam de grande admiração e simpatia dentro do nosso país, mas que, aparentemente, não têm o perfil ajustado às exigências dos que processam as indicações e das instituições que elegem os premiados.
Os norte-americanos, que se orgulham da contribuição dada por seus premiados com o Nobel, para a constituição de uma sociedade melhor, frequentemente mencionam a opinião de que os latino-americanos, e em especial os brasileiros, quase não contribuem para a evolução da humanidade. Se o Prêmio Nobel vier a ser utilizado como escala de medida para essa assertiva, fica difícil encontrar alguma coisa feita ou produzida por brasileiros que tenha servido para melhorar, efetivamente, a qualidade de vida na sociedade global. De todo modo, precisamos modificar esse cenário e “desencantar” na obtenção desse Prêmio e no importante reconhecimento internacional para com a nossa contribuição. Fora os benefícios sócio-econômicos que a inserção de laureados com o Nobel poderá trazer para a nossa população, moldando processos de maior produtividade, de mais inovação e de melhor sustentabilidade.

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