Numa típica operação de triangulação, senador do PDT destina R$ 6 milhões em emendas para que estatal mineira compre insumos da empresa dos próprios filhos
EM CAUSA PRÓPRIA Pelo menos R$ 2,4 milhões entraram nos cofres da Limeira Agropecuária, empresa dos filhos de Zezé Perrella |
Herdeiro da cadeira de senador do ex-presidente Itamar Franco, falecido em 2011, o suplente Zezé Perrella (PDT-MG) é considerado um novato no Senado. Mesmo assim, descobriu rápido um dos atalhos utilizados pelas velhas raposas políticas para obter vantagens financeiras com o mandato: a operação de triangulação usando as emendas parlamentares. Em 2011 e 2012, Perrella destinou R$ 6 milhões em emendas para a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) comprar sementes. Até aí, nada de anormal. Ocorre que boa parte desse dinheiro – pelo menos R$ 2,4 milhões – acabou parando nas contas da Limeira Agropecuária, cujos sócios majoritários são filhos do senador suplente. A empresa de Gustavo e Carolina Perrela é a principal fornecedora de sementes para a Epamig. ...
A Limeira era tocada por Zezé Perrella até 2007. Assim que entrou para a política, o senador decidiu sair do quadro societário da empresa, avaliada em R$ 60 milhões, com lucros de R$ 20 milhões por ano. Hoje, seus dois filhos possuem 95% do capital da empresa, mas, para não deixar rastro dos laços familiares, quem assina por ela é o sócio minoritário André Almeida Costa. Tendo como signatário Almeida Costa, em abril de 2011, a Limeira fechou contrato de R$ 2,4 milhões com a Epamig para o fornecimento de mais de 66 toneladas de sementes de milho e feijão. A escolha da Limeira ocorreu sem licitação, o que leva a crer que a triangulação foi previamente combinada com o autor da emenda, o senador Zezé Perrella. À época, o Ministério Público de Minas Gerais abriu procedimento para investigar o caso, mas a apuração, estranhamente, não avançou. O contrato ainda foi aditivado em R$ 383 mil em novembro daquele ano. Parte da verba dessa emenda já foi executada. De acordo com dados do orçamento da União, R$ 1,2 milhão foi empenhado em favor do órgão de pesquisa estadual.
A parceria da empresa da família de Perrella com a autarquia mineira se repetiu em janeiro de 2012, quando Epamig e Limeira firmaram contrato para fornecimento de 5,4 toneladas de sementes de milho. Para garantir os recursos necessários para o fechamento do contrato, no ano passado Perrella destinou novamente mais R$ 3 milhões em emendas para a Epamig. Como o orçamento da União de 2012 só foi votado em março deste ano, o dinheiro ainda não chegou ao destino, mas está comprometido.
A parceria da empresa da família de Perrella com a autarquia mineira se repetiu em janeiro de 2012, quando Epamig e Limeira firmaram contrato para fornecimento de 5,4 toneladas de sementes de milho. Para garantir os recursos necessários para o fechamento do contrato, no ano passado Perrella destinou novamente mais R$ 3 milhões em emendas para a Epamig. Como o orçamento da União de 2012 só foi votado em março deste ano, o dinheiro ainda não chegou ao destino, mas está comprometido.
ESTATAL MINEIRA A Epamig serviu de intermediária entre Zezé Perrella e a Limeira Agropecuária |
A Epamig foi procurada para esclarecer os critérios de escolha da Limeira Agropecuária no contrato, mas não se pronunciou. Procurado por ISTOÉ, Perrella entrou em contradição. De pronto, afirmou que a empresa de seus filhos só teve prejuízo ao participar do programa de abastecimento e que as sementes da Limeira eram vendidas para a Epamig com desconto de 30%. Depois, ele tentou negar que as emendas tivessem sido direcionadas para pagar as sementes adquiridas de sua firma. “A Limeira é cooperada da Epamig há dez anos. A Limeira não era exclusiva, era uma cooperativa, não tinha nenhum tipo de privilégio. Isso era um programa que ajudava milhares de agricultores do Estado”, afirmou. Ao fim, Perrella admitiu que a Limeira de fato concentra o fornecimento de sementes à Epamig. E tentou justificar: “Isso acontece porque a empresa é a única interessada em fornecer insumos para o programa de agricultura familiar.” Sem a atuação da firma de seus familiares, alegou o senador, a ação governamental seria extinta. “Eu fiz essa emenda para que o programa não morresse. Não vejo nenhuma irregularidade. A empresa opera normalmente, tem direito de operar de acordo com as regras de mercado.” Como se vê, até nas explicações o neófito Perrella se mostrou escolado com a política.
fotos: Ailton de Freitas / Ag. O globo; Eduardo knapp/Folhapress
fotos: Ailton de Freitas / Ag. O globo; Eduardo knapp/Folhapress
Por Josie Jeronimo
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