sábado, 20 de julho de 2013

Cartas de Buenos Aires: Cristina 3.0: uma Presidenta conectada


Gabriela Antunes
Cheguei da Casa Rosada na Residência de Olivos, por volta das 21h46, e me avisam que o Correa (Presidente do Equador) estava ao telefone:
- Rafael? Pode passar.
- Oi Rafa, como você está?
Ele me responde entre irritado e angustiado:
- Você não sabe o que aconteceu?
- Não, o quê?
- Cristina, o Evo e seu avião estão detidos na Europa.
Foi assim, por meio do facebook da Presidenta Cristina Fernández de Kirchner, que muitos argentinos ficaram sabendo de um dos episódios mais insólitos da diplomacia moderna: a detenção do avião presidencial de Evo Morales na Áustria.
Meses antes, pela mesma rede social, os hermanos participaram da querela pública entra ela e um dos mais reconhecidos atores locais, Ricardo Darín.
Foi também por meio do facebook que receberam o relato do nascimento de seu primeiro neto, Ivan Néstor: “Nasceu no dia 14 de julho. Que coisa, não? Dia da Revolução Francesa e do aniversário de uma de suas tias, Romina, filha mais nova de Alicia Kirchner”.

A Presidenta Cristina e a cachorrinha que despertou a ternura da mandatária.

São relatos pessoais, em uma rede social onde, em paralelo, abundam páginas de oposição à Presidenta, como a intitulada “Me dá vergonha que Cristina seja minha Presidenta”, com 104 mil “curtidas”.
As redes sociais oficiais da mandatária trazem um misto de informações institucionais e comentários de alto teor pessoal. Youtube, pinterest, twitter, Google plus, tumblr, facebook e Twitter, a Presidenta está conectada em algo que descreve como Cristina 3.0.
Em maio, por exemplo, e por twitter, a Presidenta apresentou seus cachorros: “Esta é Lolita, olhem que carinha!”, escreveu.
A relação com o mundo canino continuaria comovendo Cristina. No dia 11 de julho, compartilha uma foto com uma simpática cachorrinha que “colou” nela durante um ato, no estado de Tucumán: “Não é divina? Depois de tudo, não podemos fazer pátria sem ternura”, escreveu.
A “candura” de Cristina não é à toa. Nos principais centros urbanos da Argentina, segundo a agência de noticia oficial Télam, quase 100% da população já têm acesso à internet, sendo que 88% participam das redes sociais. Significa que Cristina escolheu o meio certo para chegar ao seu eleitorado.
Os argentinos andam tão fascinados pelas redes sociais que, em protesto ao caso Snowden, um grupo de publicitários lançou uma plataforma popular similar ao facebook. O Facepopular foi lançado no dia 9 de julho e alcançou rapidamente mais de 24 mil usuários, quando foram encerradas novas inscrições, para não colapsar o servidor. A ideia é nacional e popular como os posts de Cristina. Curtiu?

Gabriela Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald e mantém o blog Conexão Buenos Aires. Escreve aqui todos os sábados.

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