Você deve conhecer alguém que tem gato de água ou “gato” de luz em casa. Também deve conhecer alguém que já deu propina para policial liberar seu carro em uma “blitz”. Provavelmente, assim como eu, também deve conhecer alguém que evita pagar impostos ou que dá um jeitinho para ganhar um lugar na fila do banco de forma desonesta. Talvez você até conheça alguém que namore com uma pessoa que é casada e diz que não tem nada a ver ou então uma que “pula a cerca” do relacionamento porque estava difícil sustentar a relação. E para encerrar a lista de exemplos, também deve conhecer pessoas que preferem o salário mínimo para trabalhar em um lugar que detestam do que assumir a responsabilidade sobre a sua própria vida para viver sobre as suas próprias regras. Este blog é brasileiro. Eu sou brasileiro. E não podia deixar de chamar a sua atenção para o maior problema do nosso país: nós somos os corruptos do país corrupto.
Coloque a mão na consciência
- Você está atolado em dívidas, mas não resiste em refinanciar a sua casa ou o seu carro para comprar o novo iPhone ou uma televisão nova.
- Você reclama que o preço da luz, da água ou da tevê a cabo é muito alto, mas não resiste em tirar vantagem do sistema fazendo um gato na sua casa.
- Você critica as letras das músicas do funk, mas não resiste em “dar umazinha” com uma pessoa casada ou em trair a pessoa com quem se relaciona.
- Você critica a forma como os políticos ganham dinheiro de forma fácil, mas não resiste em fazer parte de empresas cujo modelo comercial e de expansão é baseado em pirâmide financeira.
- Você critica a violência policial, mas não resiste em falar palavrão, gritar com seus filhos ou mesmo bater neles em repressão a algo que eles fizeram e que vai contra as normas que você estabeleceu.
- Você critica a falta de investimento em saúde, mas não resiste em comer fast-food, ficar bêbado na balada e fumar.
- Você critica a violência no país, mas não resiste em puxar um baseadinho no final de semana.
- Você critica a corrupção, mas não resiste às oportunidades de tirar vantagem das outras pessoas.
- Você critica o fato dos políticos não trabalharem bastante, mas está doido para passar naquele concurso público e entrar com uma licença médica para ficar encostado.
Sou totalmente a favor de todas as formas de protesto sem violência e acho esplêndido este momento político pelo qual estamos passando, mas para corrigir o “sistema”, nós temos que nos corrigir. O nosso governo e a forma como o nosso país funciona é um espelho do Brasil que temos dentro das nossas casas e dentro de nós.
Todas essas manifestações soam para mim como um grito de fúria e liberdade contra e a favor de si mesmo. Afinal, foi a maioria da população que escolheu o presidente, o governador, o prefeito, os deputados e vereadores que temos e é esta maioria da população que hoje se humilha em empregos que não gostam ou ocupando cargos públicos que não tem afinidade em troca de algumas moedas. Não podemos nos esquecer que no ano de 2011 a cidade de São Paulo elegeu Tiririca como o segundo deputado mais votado de toda história do Brasil, mesmo tendo ele o slogan “Vote Tiririca, pior do que tá não fica” (vídeo) demonstrando toda a sua displicência em relação a maior arma que temos: o voto. Por sorte (ou azar) Tiririca foi eleito um dos melhores deputados do ano em 2012, mas o fato é que esta “manifestação nas urnas” deixou clara para os políticos do país que a maioria da sociedade não estava nem aí para a política e que o “circo” definitivamente estava armado.
O que vemos hoje na rua são pessoas querendo corrigir de uma hora para outra décadas de descaso com a política do país. Décadas onde as prioridades do brasileiro foram feriados, futebol, carnaval e pornochanchada. Décadas onde, ano após ano, fizemos as mesmas coisas de sempre: esperamos o próximo feriadão, gastamos tubos de dinheiro no nosso próximo carro popular, adquirimos bens que não precisamos para impressionar pessoas que não gostamos, não investimos na nossa educação e, como não podia deixar de ser, “cagamos e andamos” para a nossa própria saúde até que um dia, o bacon, aquela tragada de cigarro ou o último gole de cachaça faça a diferença no nosso sistema como esses R$ 0,20 fizeram para explodir uma bomba de revolta em todo o país. Da mesma forma que não parece ser possível para você que de uma hora para outra, você saia do emprego que não gosta, deixe para trás aquele relacionamento amoroso chato e tedioso ou peça desculpa para aquela pessoa que você agrediu anos atrás, é também impossível para o nosso país resgatar a sobriedade e responsabilidade para com o povo em apenas uma semana. Ano que vem tem eleição e eu quero assistir quem a maioria do povo irá eleger. Nos comportaremos como o Brasil das últimas duas semanas ou como o Brasil de décadas atrás?
Continue protestando. Continue indo para as ruas. Exerça de uma vez por todas e finalmente o seu poder como parte do povo, mas por favor, não ignore aquilo que você faz dentro da sua própria vida, entre quatro paredes e quando ninguém está vendo. Leve-se a julgamento e condene-se pelos atos de covardia, hipocrisia e perversão que exerce contra si mesmo e também contra a sociedade.
E antes que você me lembre que eu não sou um exemplo de ser humano ou Deus ou Cristo para ficar aqui dando lição de moral em alguém de forma a se defender contra as minhas acusações, espero que, assim como eu, você proteste dentro e fora de si por uma pessoa, um Brasil e um mundo melhor. Coloque a mão na consciência.
“Seja você a diferença que deseja para o mundo” ~ Gandhi
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