O Planalto já se prepara para o efeito drástico da onda nacional de manifestações sobre a imagem da presidente Dilma Rousseff. Apesar de os protestos não se dirigirem exclusivamente ao governo federal ou à presidente, o principal governante do país é tradicionalmente responsabilizado pela população e absorve boa parte do desgaste.
A última pesquisa CNI/Ibope, que confirmou a queda de 8 pontos na aprovação de Dilma, como havia identificado o Datafolha, trouxe um dado relevante sobre a distribuição desta mudança de opinião: no Sudeste, região mais desenvolvida e populosa do país, a queda de popularidade foi de 13 pontos percentuais. No Nordeste, a avaliação permaneceu estável, com queda de apenas 1 ponto. Todas as sondagens foram feitas antes de episódios altamente negativos para a presidente, como a vaia no estádio de futebol e a sequência interminável de protestos.
O pronunciamento desta terça-feira, em que a presidente saudou as manifestações de ruas declarando: "o Brasil amanheceu mais forte", é coerente com a biografia de Dilma, que dedicou a juventude a um tipo de militância política visceral e idealista que em nada lembra o perfil de quem sai às ruas hoje. No entanto, a cada dia que passa, a disseminação e a agressividade das manifestações se acentua com risco para a paz pública e com abalos para a imagem do país - acabando com qualquer romantismo na abordagem destes atos.
Na noite desta quinta, após desmarcar viagem ao Japão que a levaria a se ausentar por praticamente uma semana de um país em convulsão, Dilma teria cogitado fazer num pronunciamento em cadeia de rádio e tv. Ponderou-se que o risco desta iniciativa seria trazer a crise para o próprio colo, atraindo para si insatisfações que são mais abrangentes. No outro prato da balança pesa o argumento de que o chefe do Executivo tem o dever de se pronunciar quando tantos vão às ruas cobrar uma conta que já não é paga há muito tempo.
As noites mal dormidas da presidente se acumulam. As massas rejeitam sistematicamente o diálogo. Terá a fala da presidente o poder de mover o impasse para uma solução?
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