20 de junho de 2013 | 9h 14
GILLES LAPOUGE - O Estado de S. Paulo
No encerramento do G-8 na Irlanda do Norte enfim uma boa notícia! A caça aos paraísos fiscais sobre os quais se fala há anos, tem início. E foi iniciada por grandes países, Estados Unidos à frente, seguido pela Grã-Bretanha e pela França.
Até agora, as pessoas se contentavam em carregar os fuzis, armar as balestras, animar os cães, tocar as trombetas, mas no momento do último assalto, elas estavam um pouco cansadas e retornavam à casa. Este ano, os paraísos fiscais terão muitas razões para se preocupar. As portas de todos esses pequenos Edens fraudulentos poderão se fechar. Enfim, é o esperado em Washington, Londres e Paris.
Foi Washington que iniciou o movimento, adotando há alguns anos a Fatca, lei extraterritorial que obriga o resto do mundo a adotar o intercâmbio automático de dados. Agora, Paris acompanha o passo. A França vai ampliar a lista dos paraísos fiscais. E o que se afirma é que essa nova lista não vai incluir Estados quase imaginários, tipo Ilhas Marshall ou Botswana. Ela abrangerá, se necessário, grandes países, amigos, europeus e respeitáveis.
A lista francesa que a ser divulgada em breve ainda será clássica. E compreenderá uma dezena de países, tipo ilhas Virgens, Cayman, etc. Mas, no futuro, Paris se reserva a possibilidade de adicionar a essas praças financeiras barrocas países decentes como Suíça, Áustria ou Luxemburgo. Por que esses três países estão ameaçados? Porque se recusaram, apesar das pressões, a adotar o intercâmbio automático entre os países de dados fiscais envolvendo aberturas de contas, ativos diversos mantidos no exterior por seus cidadãos, etc.
Os países transgressores, portanto, foram prevenidos. Ou aceitam o jogo da transparência ou serão incluídos nas listas negras. O fato é que 17 países já adotaram essa deontologia, entre eles Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Espanha, Grã-Bretanha.
Mas há um paradoxo: vários desses Estados modelos, honestos e virtuosos, que conduzem a caça aos bandidos, são uns grandes hipócritas. Na realidade, são "juiz e parte" no processo, pois abrigam em seus territórios ou em suas órbitas "paraísos fiscais de bolso". Bem, essa vergonha também possivelmente desaparecerá. O G-8 exigiu que esses grandes países comecem a limpeza em casa, fechando praças imorais, como Delaware nos Estados Unidos, as ilhas anglo-normandas ou caribenhas no caso da Grã-Bretanha, ou Mônaco e Andorra, em se tratando da França.
Essa ofensiva violenta, que vai afligir operadores e bancos, merece ser aplaudida pela opinião pública. Extrair o pus desses grandes furúnculos, desses abcessos infectos é um espetáculo repulsivo, claro, mas saudável e mesmo festivo. Além disso, é claro, esperamos que a economia globalizada se comporte melhor. A fraude fiscal envolve trilhões de dólares.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.
*GILLES LAPOUGE É CORRESPONDENTE EM PARIS.
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