Metade da população da Terra vive em cidades. Até 2050 deverá chegar a 70%, segundo a ONU. Pois bem, o Brasil está entre as nações com os maiores adensamentos populacionais. Para quem ainda não se tocou, quase 85% dos brasileiros são urbanos.
As políticas urbanas, conceitos e tecnologias têm de ser reformulados com urgência. Ou esse adensamento cada vez maior poderá desestabilizar irreversivelmente o desenvolvimento do país.
Para começar, há uma dramática falta de discernimento nos políticos eleitos e seus eleitores. Não entendem o planeta com limites. Quaisquer limites; nem os do próprio território nacional. Uma população a se expandir caoticamente seria para eles muito natural. Qual o problema?
Uma cidade não é um organismo vivo, dinâmico? Sim. Mas não dispensa planejamento. Aliás, a administração pública existe para isso. Habitação, por exemplo. Pessoas precisam, obviamente, morar em algum lugar. Digno.
As pobres e de classe média buscam de preferência locais que tenham água garantida, luz e transporte bom para se deslocarem ao trabalho. As de menor renda raramente ocupam um espaço com saneamento adequado. Ou se importam com a segurança topográfica.
A partir dessa consciência, não dá mais para aceitar despreparo de prefeitos, assessores e secretários na governança municipal. Por meio dela se tem o elo direto com os cidadãos, o que pode permitir um salto de melhoria social.
Ou os piores atos de corrupção, roubando quem está lá na ponta: os pobres, as vítimas das tragédias anunciadas. Um horror frequentemente denunciado. Mais do que noticiado.
Salvam-se prefeituras que se esforçam por eficiência, é verdade. Algumas recorrem àssmart cities, incluindo a internet ao cotidiano de sua administração. No Rio, o Centro de Operações usa centenas de câmaras num sistema integrado com serviços públicos para monitorar e solucionar crises.
E como será em 2050? O arquiteto neozelandês Mark Wigley considera provável que Rio e São Paulo se tornem uma megalópole.
Foto: Pedro Simões
Porém, em entrevista a Audrey Furlaneto, Segundo Caderno (O Globo 22/03), ele alerta que se olharmos nossas ruas, veremos que as cidades atuais não foram pensadas para os mais velhos nem para as crianças. Foram desenhadas para pessoas em idade de trabalho. E para os carros.
O aumento da expectativa de vida e a possibilidade de muita gente chegar aos cem anos vão exigir uma reinvenção da vida urbana. Tema que precisa entrar na política já, antes que o momento certo seja perdido.
Ateneia Feijó é jornalista
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