Após 110 horas de debate, a Assembleia Nacional francesa adotou na terça-feira por 329 votos contra 229, o projeto de lei que permite que pessoas do mesmo sexo possam se casar e abre o caminho da adoção para casais homossexuais.
Durante meses a população francesa se mobilizou por ou contra a lei do “Casamento para todos” (Le mariage pour tous), como foi chamada. Debates foram promovidos onde homens políticos, representantes religiosos e líderes de organizações de defesa dos direitos das minorias se opuseram usando todos os tipos de argumento.
A França não é o primeiro país europeu a aceitar que pessoas do mesmo sexo se casem, países católicos como Espanha e Portugal já o fizeram, mas o voto é provavelmente um dos mais simbólicos devido ao contexto social e político do país.
Durante meus primeiros anos na França, conheci uma sociedade dividida, sob um governo que sublinhou as diferenças e aumentou o ódio entre comunidades.
O país, que durante tantos anos foi terra de acolhida para tantos, vive uma polarização da sociedade entre pobres e ricos, imigrantes e franceses, muçulmanos e católicos. A extrema direita ganhou força e conseguiu a simpatia aberta de uma parte importante da população.
O que diferencia esta nova lei, é o fato dela ter sido defendida na Assembleia por Christiane Taubira (foto acima), ministra da Justiça e também uma mulher negra.
Nascida na Guiana Francesa em uma família modesta, a ministra é calejada nas lutas pela igualdade. Em 2001 ela deu nome à lei francesa que reconhece o tráfico negreiro e a escravidão como crimes contra a humanidade.
A votação da lei do casamento homossexual permitiu dar voz a mais de uma minoria. Deixou que o debate fosse guiado por elas, diante dos discursos preconceituosos que imperaram nos últimos tempos.
Independentemente da posição de cada um sobre o casamento e a adoção, é impossível negar que um vento novo e fresco soprou na França na terça-feira. O país decidiu que talvez seja importante pensar de maneira fraternal para alcançar a igualdade.
Christiane Taubira já entrou para a história da França e a lei que ela defendeu talvez represente um primeiro passo para este país dividido ficar em paz com sua diversidade.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.
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