quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Preocupado com o futuro do futebol



De Vitor Birner
O futebol continua sua perigosa metamorfose. Deixou de ser a festa espontânea, acessível a todos os brasileiros, e virou moda.
Apenas parte da população pode curtir a prazerosa rotina de ver a equipe no estádio.
A ida aos palcos das partidas fazia parte da rotina de quem amava uma agremiação. Hoje, os trabalhadores pobres só podem viver essa relação à distância, pela televisão.
Os filhos deles perderam a herança proporcionada pela inesquecível experiência de torcerem junto com os pais nas arquibancadas.
Foram excluídos do espetáculo e substituídos pelo novo público consumidor do produto futebol.
Os olhos arregalados e punhos cerrados nas cobranças de faltas, escanteios e pênaltis deram lugar ao ato racional de fotografar as jogadas nos modernos telefones celulares.
Os berros de alegria e a sensação de alívio na hora dos gols são mais raros. Os neo-torcedores procuram as câmeras de televisão onde interpretam o papel de fanáticos.
Eles adoram as frases feitas divulgadas pelos departamentos de marketing dos clubes. Repetem as mesmas como se fossem papagaios e não as sentem.
Lobão afirmaria que “é tudo pose”.
A situação me desagradada, mas respeito as diferenças. Seria muita arrogância minha definir qual é o padrão de comportamento correto doutros indivíduos.
Isso não me impede de notar a diminuição da alegria nos locais dos jogos.
Entendo as razões de tudo. As mudanças no mundo exigem dos clubes faturamentos maiores.
Apenas acho que os gestores do produto precisam pensar em maneiras de preservar a essência da alma futebolística.
Repare como nos relacionamos com a outrora quase sagrada seleção nacional; na enorme queda de interesse nela.
O Fluminense, dono da melhor campanha do brasileirão, teve dificuldade para lotar o Engenhão.
Estamos realmente no bom caminho?
A crença na eternidade do futebol, apenas porque ele ganhou as multidões quase por inércia, talvez seja o mais grave e perigoso de todos os erros.
O futuro distante mostrará o impacto desse fundamentalismo econômico na atividade que cresceu sem planejamento e alicerçada apenas nas emoções.
O texto do post é a reprodução de minha coluna de 10 de novembro no Lance

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