quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

CRÔNICA Cartas de Paris: Muamba parisiense



Quando você é brasileiro e mora em Paris, cotidianamente tem que lidar com pedidos de compras feitos por amigos, familiares e adjacentes. Chamados de encomendas, esses pedidos podem ir de simples maquiagens e cosméticos a pesados pneus de moto.
A encomenda mais inverossímil que já ouvi falar foi, sem dúvida nenhuma, uma armadura medieval. O pedido foi feito a uma amiga que mora em Paris, pelo namorado de uma amiga do primo, ou seja, uma pessoa muito próxima. O sujeito, muito generoso, disse que dinheiro não era problema e que pagaria o táxi para o aeroporto. Para a armadura, não para a minha amiga, “bien évidemment”.
Mas tenho que reconhecer que as principais vítimas dos pedidos são os turistas e não os “locais”. Recebi amigas em minha casa em Paris que passaram a maior parte da visita em uma busca frenética pelas encomendas.
Às vezes os pedidos se aproximam perigosamente do assédio moral. Uma amiga recebeu mais de cinco ligações da mesma pessoa dentro do ônibus em Guarulhos, antes de embarcar, e assim que chegou em Charles de Gaulle recebeu mais cinco.
O que mais me intriga é que, muitas vezes, as pessoas que encomendam nunca sequer pisaram em Paris e não falam uma palavra de francês, mas são capazes de explicar em que farmácia comprar os cremes mais baratos ou em qual prateleira e andar das labirínticas Galeries Lafayette posso encontrar a tal bolsa da tal marca da qual eu nunca tinha ouvido falar nos meus mais de seis anos de França.
Comprar um pedido encomendado nunca é fácil. O último do qual fui vítima foi uma sombra e pincéis de maquiagem que, segundo a pessoa que fez a encomenda, “cabiam na bolsa”. Ela afirmou que a loja ficava a dez minutos da minha casa, segundo o Google Maps.
Ou seja, uma bobagem para quem mora em Paris e passa o dia inteiro olhando para a Torre Eiffel sem ter muito o que fazer. Infelizmente este não é o meu caso.
Eu saí do trabalho sob chuva e frio, tive que esperar durante meia hora para ser atendida. Perdi tempo, voltei para casa chateada comigo mesma por não saber dizer não e mais ainda com minha amiga.
Moral da história, as encomendas sempre incomodam por menores que sejam. É pequeno e cabe na bolsa? Mas imagine se 60 amigos pedirem coisas que cabem na bolsa? Você tem intimidade? Olha, se for realmente íntimo deve saber o transtorno que está causando.
Quando seu amigo for passear em Paris, deseje apenas boa viagem, você perde a encomenda, mas mantém o amigo.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

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