CARLOS VIEIRA
A obra marcante de Jorge Amado se passa numa Bahia de 1920. Tempo histórico regido pelo poder dos Coronéis, dos donos das fazendas de cacau, maior fonte de renda da agricultura. A brutalidade dos coronéis, donos da política, tendo a Igreja como cúmplice, imprime uma sociedade autocrática, perversa, cínica e falsa.
Transformada em novela pela TV Globo em 1975, sua segunda edição, 2012, acabou na última sexta-feira, deixando a marca de uma bela direção, produção e interpretação do núcleo novelístico da emissora dos Marinhos. O romance de Amado foi adaptado e escrito por Walter George Ddurst. Escrita por Walcyr Carrasco e Cláudia Souto, com colaboração de Daniel Berlinski e André Ryoki, com direção geral de Mauro Mendonça Filho, direção de Frederico Mayrinc e Noa Bressane e direção do núcleo de Roberto Talma.
Gostaria de dar ênfase aos temas fundamentais do romance, contidos no capítulo final da novela.
Pela primeira vez os coronéis são julgados e condenados. Cai o poder da “aristocracia cacaueira” dramatizada simbolicamente pelo enfarte do coronel Ramiro Bastos (o dono absoluto do poder político), e a ascensão de Mudinho Falcão, representante de uma nova ordem política – mais democrática e justa. Ilhéus respira um pouco de liberdade e respeito aos “direitos humanos”. Jorge Amado denuncia uma época onde a política, o judiciário e a ética eram regidos por pessoas, por interesses próprios da pequena classe dominante, fato não tão distante do atual julgamento do “mensalão”. Vence no romance e na novela uma ideia democrática, um novo tempo – o tempo da liberdade e da justiça social.
No contraponto da histórica do escritor baiano, ícone da literatura brasileira e ocidental, o canto à liberdade está profundamente contido no personagem que leva o título do romance e da novela. A irreverência, ingenuidade e o lirismo infantil de Gabriela, mostram a prosa poética de Amado, intuindo e mostrando o amor em sua forma pura, romântica, linda e ideal.
Na cena final onde estão fazendo amor e conversando sobre reatar seu casamento, Nacib Saad e Gabriela compõem um dueto belíssimo. “Gosto de cravo e sabor de canela”, a elegia a um amor sem cobranças, sem ciúme patológico, sem posse. Um amor sem precisar de “usar sapatos e vestes finíssimas”, metáfora da falsidade das relações amorosas da “alta sociedade” de Ilhéus. Gabriela e Nacib representam o amor sem ostentação, a imagem verdadeira de uma relação amorosa, onde o sentimento de ser predomina sob o faz de conta da burguesia cínica e vazia de afetos. Curioso o fato de que o vínculo amoroso e sexual era deslocado para uma “casa de recurso”, o famoso Bataclã, onde os homens do poder amavam com liberdade, até a liberdade de projetar a vida amorosa numa relação com sua “quenga”, prostituta.
Nacib pede perdão à Gabriela – Gabriela não cobra perdão, não cobra culpa. Ela, de uma maneira ingênua e singela diz que sua condição para voltar é a verdade de quem ela é. Ser aceita não pelo nome de família, pela posição social, pela convivência com a mentira, com o desamor e o “faz de conta de que vivem bem”. Nacib não precisaria fazer uma Gabriela de “salto alto”, mas sim aceitar alguém verdadeiro, simples, mestiço e sem as impurezas da burguesia do coronelismo baiano, brasileiro.
Em entrevista dada a Edla Van Steen, publicada pela autora em L&PM Pocket, volume I, de Viver & Escrever diz Jorge Amado: ... “Sou patrulhado por todos os lados. Tenho notado que certos críticos falam de livros meus e neles baixam o pau, sem sequer os terem lido. O fato importa-me pouco, mais vale uma carta de leitor, que se emocionou com a leitura de um romance meu, do que um artigo de certos ‘mestres’ da crítica: eles não têm a menor influência sobre o público que sabe o que quer”.
Adiante, respondendo sobre o fascínio dos americanos do norte com sua visão romântica e não antropológica, no elogio da mestiçagem, diz Amado: “O Brasil é uma nação mestiça e daí resulta sua grandeza e a originalidade de nossa cultura. A mestiçagem é a nossa maior contribuição para o humanismo. Manuel Quirino, um sábio, já dizia que o mestiço é a maior riqueza do Brasil. Estou de acordo”.
O gosto e o sabor do cravo e da canela mostram em Gabriela o romantismo e o lirismo da obra de Jorge Amado, descrevendo o amor, o amor da mestiçagem, o amor baiano e brasileiro que urge ser recriado nos dias atuais.
Transformada em novela pela TV Globo em 1975, sua segunda edição, 2012, acabou na última sexta-feira, deixando a marca de uma bela direção, produção e interpretação do núcleo novelístico da emissora dos Marinhos. O romance de Amado foi adaptado e escrito por Walter George Ddurst. Escrita por Walcyr Carrasco e Cláudia Souto, com colaboração de Daniel Berlinski e André Ryoki, com direção geral de Mauro Mendonça Filho, direção de Frederico Mayrinc e Noa Bressane e direção do núcleo de Roberto Talma.
Gostaria de dar ênfase aos temas fundamentais do romance, contidos no capítulo final da novela.
Pela primeira vez os coronéis são julgados e condenados. Cai o poder da “aristocracia cacaueira” dramatizada simbolicamente pelo enfarte do coronel Ramiro Bastos (o dono absoluto do poder político), e a ascensão de Mudinho Falcão, representante de uma nova ordem política – mais democrática e justa. Ilhéus respira um pouco de liberdade e respeito aos “direitos humanos”. Jorge Amado denuncia uma época onde a política, o judiciário e a ética eram regidos por pessoas, por interesses próprios da pequena classe dominante, fato não tão distante do atual julgamento do “mensalão”. Vence no romance e na novela uma ideia democrática, um novo tempo – o tempo da liberdade e da justiça social.
No contraponto da histórica do escritor baiano, ícone da literatura brasileira e ocidental, o canto à liberdade está profundamente contido no personagem que leva o título do romance e da novela. A irreverência, ingenuidade e o lirismo infantil de Gabriela, mostram a prosa poética de Amado, intuindo e mostrando o amor em sua forma pura, romântica, linda e ideal.
Na cena final onde estão fazendo amor e conversando sobre reatar seu casamento, Nacib Saad e Gabriela compõem um dueto belíssimo. “Gosto de cravo e sabor de canela”, a elegia a um amor sem cobranças, sem ciúme patológico, sem posse. Um amor sem precisar de “usar sapatos e vestes finíssimas”, metáfora da falsidade das relações amorosas da “alta sociedade” de Ilhéus. Gabriela e Nacib representam o amor sem ostentação, a imagem verdadeira de uma relação amorosa, onde o sentimento de ser predomina sob o faz de conta da burguesia cínica e vazia de afetos. Curioso o fato de que o vínculo amoroso e sexual era deslocado para uma “casa de recurso”, o famoso Bataclã, onde os homens do poder amavam com liberdade, até a liberdade de projetar a vida amorosa numa relação com sua “quenga”, prostituta.
Nacib pede perdão à Gabriela – Gabriela não cobra perdão, não cobra culpa. Ela, de uma maneira ingênua e singela diz que sua condição para voltar é a verdade de quem ela é. Ser aceita não pelo nome de família, pela posição social, pela convivência com a mentira, com o desamor e o “faz de conta de que vivem bem”. Nacib não precisaria fazer uma Gabriela de “salto alto”, mas sim aceitar alguém verdadeiro, simples, mestiço e sem as impurezas da burguesia do coronelismo baiano, brasileiro.
Em entrevista dada a Edla Van Steen, publicada pela autora em L&PM Pocket, volume I, de Viver & Escrever diz Jorge Amado: ... “Sou patrulhado por todos os lados. Tenho notado que certos críticos falam de livros meus e neles baixam o pau, sem sequer os terem lido. O fato importa-me pouco, mais vale uma carta de leitor, que se emocionou com a leitura de um romance meu, do que um artigo de certos ‘mestres’ da crítica: eles não têm a menor influência sobre o público que sabe o que quer”.
Adiante, respondendo sobre o fascínio dos americanos do norte com sua visão romântica e não antropológica, no elogio da mestiçagem, diz Amado: “O Brasil é uma nação mestiça e daí resulta sua grandeza e a originalidade de nossa cultura. A mestiçagem é a nossa maior contribuição para o humanismo. Manuel Quirino, um sábio, já dizia que o mestiço é a maior riqueza do Brasil. Estou de acordo”.
O gosto e o sabor do cravo e da canela mostram em Gabriela o romantismo e o lirismo da obra de Jorge Amado, descrevendo o amor, o amor da mestiçagem, o amor baiano e brasileiro que urge ser recriado nos dias atuais.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
Nenhum comentário:
Postar um comentário