Falar de Halloween no Dia de Finados é de mau gosto?
A escriba aqui pede desculpas aos mais sensíveis. A coincidência foi um azar provocado pelo calendário (falar de azar no Dia de Finados é de mau gosto?). Explico. O Halloween foi na última quarta, e estas Cartas de Seattle são publicadas só às sextas. Semana passada estava muito longe para tocar no assunto. Agora que o Halloween passou, parece um pouco fora de hora para ainda falar nisso.
Paciência, que valerá a pena.
O Halloween é evento da maior importância por aqui. É o carnaval deles. Com a semelhança de que a folia se espalha por alguns dias, ainda que de forma não oficial, especialmente quando o 31 de Outubro não cai no fim de semana.
E com a diferença de que durante o dia os fantasiados perambulam entre os não-fantasiados como se não estivessem vestindo nada demais. É nestes dias que você finge que é normal que a atendente do banco esteja vestida de melindrosa. Ou que haja um lobo de 1,80m de altura, com direito a máscara e rabo, na cozinha do seu trabalho. Ainda não captei a etiqueta para estas horas, e achei prudente conter a gargalhada.
A criatividade rola solta, como deve ser em um bom carnaval. Eu achava que o vento gelado era o motivo para as fantasias serem em geral mais recatadas em comparação com as brasileiras. Mas um radialista local tem outra explicação: Seattle é politicamente correta demais, é reservada demais, é reprimida demais. Será? Não combina com a fama de tolerante e cuca fresca que os nativos gostam de cultivar.
Ousados ou não, todos se fantasiam – crianças, adultos e cachorros. Sim, cachorros! Como parte da família que são (já fiz uma carta falando como Seattle tem mais cão do que criança), têm mais é que acompanhar os donos.
Foto: Pets Advisers@CC
Estima-se que, só em fantasias de Halloween para seus amigos de quatro patas, os americanos vão gastar US$ 370 milhões este ano, 19% a mais que no ano passado. Recessão, onde?
Para quem é de outra cultura, celebrar o Halloween é como ir a uma festa à fantasia fora de época. Mesmo que não se adote um personagem, vale a pena observar até onde vai a natureza humana no seu intuito de extravasar, chocar, inspirar e se divertir.
Com pais levando seus filhos fantasiados para o trabalho ou saindo mais cedo para acompanhar os pimpolhos na tradição de pedir doces nas casas dos vizinhos, o trânsito da cidade virou um caos a tarde toda.
De novo: parece dia de carnaval no Brasil.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
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