quinta-feira, 25 de outubro de 2012

UM NÃO AO OLVIDO



Ralph J. Hofmann
Recebi um artigo sobre os jovens filhos, netos e bisnetos de sobreviventes do holocausto que estão procurando tatuadores para reproduzirem os números que os nazistas tatuavam nos prisioneiros. Consegui localizar um artigo com o mesmo conteúdo em português: Jovens ‘herdam’  os números que marcaram os judeus
Estamos chegando num momento em que a maioria dos sobreviventes têm poucos anos de vida pela frente.  O mais jovem sobrevivente do holocausto tinha nove anos em 1945 segundo uma das versões que ouvi e li. Soube porém que alguns dos sobreviventes eram mais jovens, crianças de colo cujas mães ainda não haviam sido processadas ou haviam sido selecionadas para o extermínio mas a operação das câmaras de gás cessara ante o avanço dos aliados. A tatuagem apenas era feita nos que não iriam ser utilizados como escravos até não terem mais forças.  Eram desumanizados sendo números e não tendo mais nomes.
Consideremos o caso do Grão Rabino Meir Lau, considerado por alguns o mais jovem sobrevivente. Nascido em 1937, ele hoje tem 75 anos. A grande maioria dos sobreviventes hoje tem bem mais de 80 anos. Sua memória viva da hecatombe está por perecer. Quantos destes sobreviventes passarão dos noventa anos?
Stephen Spielberg criou a fundação Shoah que há coisa de 15 anos percorre o mundo recolhendo depoimentos de sobreviventes. Com isto preserva a memória.
Até certo ponto, em depoimentos que li e ouvi uma das coisas que este trabalho evidencia é o desperdício do potencial de pessoas de grande capacidade.
Aqui mesmo em Porto Alegre  conheço o caso de uma mezzo soprano austríaca que deveria chegar a ser um vulto no bel canto  segundo cartazes de concertos e apresentações na ópera de Viena que ainda existem. Após os anos de privações e a solução de continuidade da carreira não havia como retomar o rumo após sair dos campos mera pele e ossos. Hoje é uma delicada e bem-humorada avó, uma mulher inteligente, curtindo seus netos, que conta suas vivências com certa desenvoltura, mas fala pouco das expectativas profissionais que tinha aos 18 anos.
Assim foi com muitos outros tipos de profissionais. O mundo os perdeu, perdeu o que poderiam ter produzido. E isto é apenas o lado contábil da história. O mundo perdeu muito mais pelo embrutecimento que é causado pela magoa de quem não pode esquecer, e não pode nem deve perdoar.
Mas principalmente vejam o que acontece. Para os não envolvidos o holocausto passou a ser uma cena que empalidece a cada ano. Palestinos, Iranianos, muitas pessoas nos países europeus optam por esquecer ou negar a evidência dos filmes, as estatísticas produzidas com números coligidos pelos próprios magarefes alemães que com efeito faziam questão de confirmar os números para demonstrar sua eficácia no mister de assassinar. Há uma bem remunerada indústria do esquecimento e do barateamento da dor que foi infligida, não s;o a judeus como também a Testemunhas de Jeová,  ciganos e a homossexuais além de outros.
Vejo algo de notável nos jovens que optam por homenagear seus avós e bisavós tatuando o número que os marcou.
O assunto da lembrança é estranho. Tenho primos ingleses que não sabiam que os pais haviam chegado à Inglaterra a bordo do último trem de crianças que conseguiu sair da Alemanha em 1938. Após o filme “Nos Braços de Estranhos” meus tios começaram a contar a história aos netos.
Da mesma forma aqui em Porto Alegre tenho um contraparente de mais de 80 anos. Claro que os filhos sempre souberam sobre sua passagem pelos campos, pois tem a tatuagem no braço mas ele nunca falou nada para eles. Contudo nos últimos dois anos sentiu a necessidade de se abrir com os netos, e aos poucos começou a contar alguma coisa. Hoje, na companhia de outros três sobreviventes, aceita dialogar, se convidado, com grupos de crianças, especialmente se não forem da com unidade judaica. Entende que isto é importante para neutralizar extremismos futuros contra quem quer que seja.
Finalmente, apenas para relembrar como era amarga a dor dessas pessoas no fim dos anos 40 e início dos anos cinqüenta coloco o meu depoimento.
Meus pais identificaram a ameaça nazista cedo. Saíram da Europa e foram para a África do Sul onde se conheceram. Em 1948 vieram ao Brasil passar quatro anos e acabaram ficando para sempre. A vinda para o Brasil foi para implantar uma fábrica que os primos acharam intacta e encaixotada na Alemanha ao recuperar seus bens em 1946.  Um dos patriarcas da família decidiu que seria bom colocar esta fábrica no Brasil.
Portanto em 1949 quem chegasse a Caxias do Sul veria o logotipo e o nome da empresa em alguns lugares da cidade. Com isto se dava conta que um empreendimento de judeus alemães estava presente.
Várias vezes, tarde da noite alguém batia  à nossa  porta. Era sempre alguma alma torturada, um sobrevivente do holocausto ou uma pessoa que perdera todos no holocausto. Hospedado no hotel local vira o logotipo e pedira o endereço do gerente e vinha para conversar, por para fora  sua tristeza, sua falta dos filhos e esposas perdidas, coisas que só podia relatar para quem o entendesse.
Meu quarto era do lado da sala de estar. Essas conversas, os choros que ouvi através da porta me ferem até hoje e sempre estarão comigo.

E.T: Sobrevivente mais velho de Auschwitz morre aos 108

O mais velho sobrevivente do complexo nazista de extermínio de Auschwitz-Birkenau, o polonês Antoni Dobrowolski, morreu aos 108 anos. Dobrowolski faleceu no domingo na cidade polonesa de Debno, informou Jaroslaw Mensfelt, porta-voz do museu estatal de Auschwitz-Birkenau. Dobrowolski foi enviado a Auschwitz porque dava aulas clandestinas de polonês durante a ocupação alemã do país, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Alemanha nazista considerava a cultura polonesa, como as dos outros povos eslavos, inferior. O ensino da língua polonesa foi banido no período, exceto nas escolas elementares. Após a invasão alemã de 1939, que marcou o início da Segunda Guerra, milhares de poloneses começaram a ensinar clandestinamente o idioma. Dobrowolski era um professor que se recusou a abandonar o ensino e foi preso pela Gestapo em 1942, sendo enviado à Auschwitz. Pelo menos 1,1 milhão de pessoas foram mortas pelos nazistas apenas no complexo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, a grande maioria judeus, mas também poloneses e ciganos. Dobrowolski foi enviado, após Auschwitz, ao campo de concentração de Sachsenhausen, perto de Berlim, onde foi libertado em 1945.
(1) Fotomontagem: 3 gerações, avô, filha e neta, adotaram como um segundo sobrenome o número 157622, que o primeiro recebeu em  Auschwitz-Birkenau.
Antoni Dobrowolski ao completar 108 anos.

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