quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Funcionários da embaixada do Brasil no Haiti estariam cobrando propina por visto


O antropólogo da Unicamp Omar Ribeiro Thomaz fez a denúncia durante evento em SP


ÁGUAS DE LINDOIA (SP) - O antropólogo da Unicamp Omar Ribeiro Thomaz denunciou no último dia do encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Águas de Lindóia, no interior de São Paulo, que funcionários da Embaixada brasileira em Porto Príncipe, capital do Haiti, estariam cobrando propina dos imigrantes que tentam obter o visto de trabalho devido a causas humanitárias.— Temos notícias de parentes de haitianos estabelecidos no Brasil que, tendo dinheiro para passagem e a carta-convite não conseguem porque pedem propina. Isso precisa ser verificado — afirmou Thomaz.
Em janeiro deste ano, quando foi verificado aumento do número de haitianos tentando entrar no Brasil, o governo estabeleceu um limite de 1.200 vistos de trabalho devido a causas humanitárias por ano.
Com pesquisas no Haiti desde 1998, Thomaz critica o governo brasileiro, dizendo que não existe motivo para verificar um movimento imigratório do Haiti para o Brasil devido ao baixo número de imigrantes, cerca de cinco mil. De acordo com ele, os haitianos fora do país têm um papel fundamental que é o envio de remessas de dinheiro para os parentes que ficaram. Isso seria fundamental para a recuperação da economia do país e da própria sobrevivência dos cidadãos.
— A diáspora é a única solução. Limitá-la é a maior crueldade que poderia ser feita — afirmou o antropólogo, que reitera: — O dinheiro das cooperações internacionais não chega para a população afetada pelo terremoto.
O cientista social Elder Andrade de Paula, da Universidade Federal do Acre, acompanhou o drama dos haitianos que entraram pelo Brasil pela cidade de Brasiléia, também no Acre.
— Parte deles tinha o Brasil como um momento temporário no processo migratório deles até a Guiana Francesa. Por alguma razão, eles pensaram que ficariam melhor lá, do que aqui no Brasil — afirmou Paula.
Para ele, o momento da maior chegada de haitianos foi ainda pior devido à enorme quantidade de desabrigados das chuvas no estado naquela época. O pesquisador ainda citou o fato de empresários brasileiros estarem escolhendo haitianos para trabalhar em suas empresas e utilizando como critério de seleção a canela fina ou grossa. Os de canela fina “seriam mais trabalhadores”.
Procurado, o Ministério das Relações Exteriores negou por meio de nota que seja cobrada propina para obtenção de vistos, dizendo que a Ouvidoria da Embaixada de Porto Príncipe está à disposição e que nunca recebeu nenhuma denúncia do tipo, teria ocorrido apenas o caso de uma haitiana. “Em junho passado, chegou ao conhecimento da Embaixada que cidadã haitiana estava intermediando a solicitação de vistos para grupos e deles cobrando taxas indevidas a título de facilitar, junto ao Setor Consular, a obtenção de visto para o Brasil. O fato foi imediatamente notificado às autoridades do Haiti, que deram início a investigação policial, com a consequente detenção em flagrante da pessoa suspeita.”

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