23/06/2012
às 19:04 \ Tema LivreRicardo Setti
(Reportagem de Laura Diniz e Julia Carvalho publicada na edição impressa de VEJA)
Elize Matsunaga
REVIRAVOLTA MACABRA
Laudo da perícia contradiz a versão apresentada à polícia por Elize Matsunaga e revela que ela degolou o marido e cortou seus braços quando ele ainda estava vivo
O assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga pela mulher, Elize, já tinham ingredientes de um filme de terror, mas a divulgação na semana passada do laudo pericial sobre a causa da morte do executivo adicionou contornos ainda mais macabros ao episódio. Ao concluir que o diretor da empresa do setor de alimentos Yoki morreu aos 42 anos em decorrência de um tiro na cabeça associado a “asfixia respiratória por sangue aspirado devido à decapitação”, o estudo levou a duas conclusões.
A primeira é que Elize, de 30 anos, ex-garota de programa, mentiu ao dizer que matou o marido com um tiro e que desmembrou o cadáver apenas na manhã seguinte, em uma tentativa desesperada de livrar-se do corpo.
A segunda conclusão é que ela degolou Matsunaga ainda vivo. Um dos profissionais que participaram da necrópsia confirmou a VEJA que também os dois braços do executivo foram cortados enquanto ele ainda vivia. A informação consta do laudo pericial. Diz o documento: “As secções na região cervical e raízes dos membros superiores apresentam características de reação vital. As secções em região abdominal e joelhos direito e esquerdo não apresentam sinais vitais”.
Isso significa que, ao analisarem o pescoço e os braços da vítima, os legistas perceberam que os tecidos dessas regiões apresentavam circulação sanguínea ativa no momento dos cortes, o que só pode ocorrer enquanto o coração está batendo. A situação não se repetiu na análise de outras partes do corpo.
VEJA ouviu quatro especialistas para comentar o laudo. Nenhum deles considerou a possibilidade de outra ação, que não a degola, ter causado o sangramento que, de acordo com o exame, asfixiou Matsunaga e ajudou a levá-lo à morte. A hipótese, por exemplo, de o tiro de pistola calibre 380 que atingiu a têmpora do executivo ter provocado a hemorragia é, segundo os peritos, altamente improvável, dado que a bala teria de cumprir uma trajetória muito específica para que isso ocorresse.
Desconsiderando a hipótese de existirem falhas no laudo, legistas e policiais ouvidos pela reportagem enxergam apenas dois cenários para explicar o que se passou na cobertura do casal na Vila Leopoldina, bairro de classe média alta de São Paulo, no dia 19 de maio, quando o diretor da Yoki foi assassinado.
No primeiro, Elize atirou na cabeça do marido e, achando que ele estivesse morto, começou a esquartejá-lo em seguida para livrar-se do corpo. Ao perceber que Matsunaga ainda vivia – ou diante da abundância de sangue que jorrava do seu corpo -, interrompeu a ação para retomá-la na manhã seguinte. No segundo cenário, ela teria disparado contra Matsunaga e iniciado a degola em seguida, consciente de que ele vivia e impulsionada pelo ódio.
As duas versões, no entanto, esbarram em uma questão. A polícia encontrou poucos indícios de sangue na sala, onde o crime ocorreu. O início de esquartejamento, com Matsunaga vivo, obrigatoriamente faria jorrar uma grande quantidade de sangue. Mas os peritos encontraram resquícios da substância apenas entre as frestas do piso.
O laudo derrubou outro ponto importante da defesa de Elize. Ela afirmava ter atirado no marido quando os dois estavam frente a frente, em pé, depois de ele ter dito que a enviaria “de volta para o lixo de onde ela veio”. A análise dos peritos monta outra cena. O tiro atingiu Matsunaga de cima para baixo, à queima-roupa, o que indica que ele estava sentado ou abaixado – sinais de uma execução calculada, não de um rompante emocional provocado por uma discussão, conforme o relato de Elize.
“A necrópsia desmonta a versão dela e aumenta a gravidade do homicídio”, diz o criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, contratado pela família de Matsunaga. A aparente reviravolta na história não altera a natureza do crime cometido por Elize, um homicídio doloso qualificado. Não há dúvida, porém, de que o peso atribuído por um júri popular ao crime da mulher que matou o marido cegada pelo ciúme e pelo pavor de perder tudo – da vida de luxo à guarda da filha – é bem diferente daquele que recairia sobre uma assassina que, a sangue-frio, o esquartejou vivo. À defesa de Elize caberá agora provar que ela é só uma assassina, e não um monstro.
A PENÚLTIMA NOITE DE VIDA
O estopim que teria levado Elize a assassinar o marido foi a descoberta do relacionamento dele com uma prostituta que anunciava seus préstimos no mesmo site no qual ela própria o havia conhecido anos antes.
Veja a sequência de fotos:
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ROMANCE VIRTUAL
Matsunaga e a amante, de 23 anos e codinome Lara, deixam um restaurante sem saber que estão sendo filmados pelo detetive contratado por Elize; o executivo da Yoki pagava 4.000 reais por mês para sair com a mulher e já havia lhe dado 27.000 reais para que ela tirasse o anúncio do site M.Class, além de um carro
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