Quando cheguei na rádio onde trabalho na quinta-feira passada, recebi a notícia de que Oscar Niemeyer tinha morrido e que isso alteraria um pouco a programação do dia.
Fui incumbida de fazer uma pequena reportagem para o programa da noite sobre suas obras em Paris.
Depois de uma semana saindo tarde do trabalho, tenho que reconhecer que a notícia não caiu mal. Pensei que seria fácil conseguir rápido as sonoras necessárias e chegar mais cedo em casa.
Comecei fazendo uma busca para saber detalhes destas obras tão conhecidas de quem mora em Paris: a sede do Partido Comunista Francês, o Centro Cultural do Havre e a sede do jornal L’Humanité.
Passei quase uma hora me divertindo com os vídeos dos arquivos do Instituto de Audiovisual Francês que mostravam um jovem Niemeyer, passeando na estrutura do emblemático bunker do PCF – que se transformaria mais tarde em um dos prédios mais visitados da cidade durante as Jornadas do Patrimônio francês – explicando, em um francês carioca, os traços de seu projeto.
Observei mais de perto um fato que já conhecia, mas para o qual nunca tinha atentado: Niemeyer morou muitos anos na França. Pouco a pouco entendi que ele foi um estrangeiro em Paris. Provavelmente o mais ilustre dos brasileiros que passaram por estas terras, mas ele também tinha um sotaque, sentiu frio no inverno, se maravilhou com a Torre Eiffel, teve saudades de casa e escreveu cartas.
Conseguir informações exatas sobre seus quase vinte anos na França não foi tão fácil quanto imaginava. Além das obras, tudo parecia muito subjetivo, poucas informações exatas sobre o número de trabalhos que fez aqui ou sobre onde morou.
Uma coisa é certa, ele amou a França e esta, por sua vez, devolveu em dobro todo seu carinho. Desde a semana passada os franceses não se cansam de falar e de se entristecer com a morte deste poeta das formas. Cheguei até a receber os pêsames na rua quando descobriam que sou brasileira.
Esta não foi a primeira vez que escrevi sobre o arquiteto e novamente tive a mesma impressão. A de que ele não deixava ninguém indiferente, não somente por suas ideias arquitetônicas inovadores, mas por ser uma boa pessoa.
Ao longo do dia, os testemunhos e relatos que ouvi falavam de um homem generoso, acessível e amigo.
Saí tarde do trabalho, uma vez mais, mas com o coração aquecido pela generosidade deste homem que ajudou a construir uma bela imagem de todos nós brasileiros aqui fora.
A mão aberta oferece uma flor: presente de Niemeyer para Paris (parc Bercy)
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário