Uma vez contei para uma americana que eu escrevia uma coluna semanal sobre Seattle para o maior blog brasileiro de notícias. Ela tentou brincar: “E você fala sobre o quê? Depilação?”. Sorri sem achar graça. Sim, a Brazilian wax é um dos símbolos do nosso país, ao lado de samba e futebol. Não tem como negar.
Sem querer fazer generalizações sobre os conhecimentos dos americanos sobre o Brasil, abro espaço para uma constatação: são poucas as oportunidades para o povo de Seattle conhecer a cultura brasileira.
Tem o ShowBrazil, grupo musical que faz apresentações musicais ao gosto do freguês: de carnaval a bossa nova. Tem o pianista, compositor e arranjador carioca Jovino Santos Neto, radicado há duas décadas na cidade.
Tem o evento BrasilFest, festival que todo agosto leva gastronomia e música brasileiras ao Seattle Center, complexo de entretenimento que reúne alguns dos principais marcos da cidade, como a torre de observação Space Needle e o museu de música Experience Music Project. Este ano o tema do BrasilFest foi Olinda. Teve maracatu e ciranda. Brigadeiro e feijoada.
Foto: Dan Bennett@CC
Conta-se nos dedos os restaurantes que oferecem comida brasileira em Seattle, é verdade, mas eles existem. Esta semana eu deixei um americano que é apaixonado pelo Brasil com água na boca ao informar onde se pode comer uma boa moqueca por aqui.
E claro que há as invencionices de praxe, que mais servem para confundir: o restaurante que faz uma “legítima” caipirinha brasileira com 10 ingredientes (!) e a lanchonete que oferece cachorro-quente “carioca” incluindo feijão e abacate (contei isso numa Carta de Seattle).
Para quem quer ir além, outra maneira é ficar atento à exibição de filmes brasileiros. Hoje começa o Festival de Cinema Latino de Seattle, com dois representantes tupiniquins. Na estreia, Rodrigo Santoro e o diretor André Ristum apresentam o filmeMeu País. No domingo, tem A Fábrica. E eu torcendo para que a plateia seja expressiva.
Semana passada só tinha uma dezena de pessoas na última exibição de o Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Se falta divulgação, sugiro que alguém levante a bandeira da brasilidade usando as mídias sociais para fazer ações de promoção em Seattle. Dá para fazer muito com um orçamento relativamente baixo.
A verdade é que cada expatriado é um embaixador involuntário do seu país. Cada um de nós estabelece os parâmetros que reforçam ou desafiam estereótipos. Outro dia ouvi de uma gringa espantada: “Mas você é brasileira mesmo? Nem tem muito sotaque”. Ué, eu tenho sotaque, sim. E não sei sambar.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
Nenhum comentário:
Postar um comentário