A exposição “vache” foi um sucesso entre os membros do grupo surrealista em Bruxelas, mas em Paris, como já vimos, foi um fracasso. Seguindo os conselhos de sua mulher e do marchand Alexander Iolas, Magritte abandonou aquelas experimentações e voltou ao seu estilo dos anos 30.
Em 1949, o pintor lança um novo manifesto, “A Verdadeira Arte da Pintura”, no qual expôs o que pensava sobre o papel da pintura para o Homem. Segundo ele, a pintura perfeita produz um grande efeito, mas de curta duração. A arte da pintura é a arte do pensamento, que deve levar o homem a pensar, a ter uma reação duradoura em nível mais profundo que o da simples emoção.
Foi durante o período que vai de 1949 a 1960, que Magritte produziu seus mais importantes trabalhos. Além das versões que fez de quadros dos grandes mestres, fez também muitas versões de suas primeiras telas, instado por seu marchand, inclusive uma série de versões de “O Império das Luzes”, iniciada em 1949.
Também por essa época ele começou sua “petrificação”, quando transformava objetos vivos em pedras, em quadros que ficaram célebres, como “A Palavra Dada”, “Os Passos Desperdiçados”, “O Filtro”.
Já comentamos aqui que Magritte era leitor entusiasmado de Edgar Allen Poe: há longas notas de pé de página sobre a petrificação em alguns contos desse genial escritor americano. Até morrer Magritte foi afeiçoado a histórias com enigmas e nessa sua foto (à esquerda) podemos ver como gostava que tudo tivesse um ar misterioso. Outro de seus autores favoritos era Dashiel Hammet.
Além de sua atividade como pintor, ele colaborou ao longo da vida em diversas revistas; fez capas para partituras de música popular; escreveu múltiplos artigos para a imprensa de esquerda; realizou uma série de pequenos filmes, por vezes com cenários compostos por ele e seus companheiros; compôs cartazes e anúncios publicitários. Essas produções lhe possibilitaram diversos meios de ganhar a vida à margem da arte sem, no entanto, violentar aquela liberdade que todo criador exige.
Em “O Império das Luzes”, tela de hoje, há uma rua escura, é noite, mas o céu está banhado de luz, todo azul-pastel, marcado por nuvens leves como se fossem pelotas de algodão. Sem nada de extraordinário ou de fantástico em sua composição, Magritte apenas com uma paradoxal combinação de noite e dia, perturba uma das mais organizadas e fundamentais premissas da vida.
A crítica de arte Lucy Flint, comentou numa nota para a Guggenheim Foundation: "A luz do sol, normalmente a fonte da claridade, aqui cria certa inquietude associada à escuridão. Torna a escuridão mais impenetrável do que seria em um contexto normal. O tema, bizarro e tratado de forma impessoal, é uma das características do surrealismo que Magritte adotou desde 1920".
Essa é uma das versões desse quadro, havendo muitas outras, inclusive no MoMA e no Museu de Belas Artes de Bruxellas.
Óleo sobre tela, 195,4 x 131,2 cm.
Guggenheim Foundation, Nova York
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