Carlos Chagas
Viveu o Supremo Tribunal Federal, ontem, um de seus momentos mais altos. Aliás, altíssimo. Com o voto aguardado para hoje de seu presidente, Ayres Britto, serão nove ministros pronunciando-se pela punição da corrupção, do peculato e da lavagem de dinheiro, contra apenas dois ministros aferrados a argumentos em favor dos mensaleiros. Demonstra, a mais alta corte nacional de justiça, que nem tudo está perdido no Brasil.
Ayres Brito, Celso de Mello e Marco Aurélio
Ficou claro, ontem, que o mensalão existiu e está sendo exposto em suas entranhas. Mais ainda: que se João Paulo Cunha, Marcos Valério, Henrique Pizzolato e dois penduricalhos são culpados pela prática de um dos maiores escândalos verificados na história da República, o mesmo acontecerá com José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, Valdemar da Costa Neto, Roberto Jefferson e outros integrantes da quadrilha que durante os anos iniciais do governo Lula transformou o país na caverna do Ali Babá.
Aliás, caverna do Ali Babão, porque depois das sentenças finais poderá não sobrar pedra sobre pedra no edifício erigido pelo PT e aliados sobre o pantanal do poder. Claro que processualmente o ex-presidente Lula encontra-se blindado, ao tempo em que a presidente Dilma consegue passar ao largo da lambança, sem ter participado dela. Mesmo assim, está cabendo ao Supremo rasgar o véu da tradicional impunidade que nos assola.
É cedo para saber se os lambões vão parar na cadeia e se, atrás deles, seguirão montes de políticos e de empresários de diversos partidos que há tempos vem transformando o país num refugio de bandidos. Pode ser que as condenações não se traduzam em detenções e reclusões, tendo em vista o monte de expedientes e recursos que a lei faculta aos bandidos. Mas também pode ser que se venham acoplar o Bom Direito e a voz rouca das ruas.
O voto do decano Celso de Mello configurou peça digna de constar dos principais capítulos da nossa História. Isso depois que também brilharam Cezar Peluso, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello. Demonstraram, os ministros mais experientes da corte suprema, terem sido bons professores do jardim de infância, porque na véspera Luís Fux, Carmem Lucia e Rosa Weber apoiaram, cada com suas nuanças, a linha geral determinada pelo relator Joaquim Barbosa, de inflexibilidade diante da corrupção.
Apenas Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli formaram do outro lado, sustentado a absolvição dos réus. Terão tido seus motivos, democracia é assim mesmo, mas os passos iniciais do Supremo, vale repetir, exprimem tempos novos.
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