quarta-feira, 22 de agosto de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - ENGENHARIA Aqui, no Forte das Cinco Pontas, Frei Caneca foi martirizado


A linda paisagem do Recife é privilegiada: além da natureza exuberante, recebeu o forte chamado São Tiago das Cinco Pontas que domina o porto da cidade. Foi edificado pelos flamengos, no ano de 1630, por determinação do Príncipe de Orange - Frederik Hendrik -, tendo como seu idealizador o comandante Teodoro Weerdemburgh. Chamou-se, primeiramente, de Forte Frederico Henrique.
Os objetivos mais relevantes da fortaleza eram os de garantir à população o suprimento de água potável, mediante a proteção das cacimbas (ponto vital para o abastecimento d’água do Recife), e impedir que os navios inimigos circulassem pelas águas do Capibaribe e chegassem até a Barreta dos Afogados (através de uma passagem existente nos arrecifes), podendo se evadir, a partir daí, com os barcos carregados de açucar.
Com a vinda de Mauricio de Nassau para o Recife, os holandeses iniciaram a construção de um canal de trinta metros de largura, partindo do Forte Frederico Henrique e se estendendo até o local onde se encontra, hoje, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Em 1637, por sua vez, as muralhas e a profundidade do fosso da fortaleza foram reformados.

Detalhe da planta do Forte das Cinco Pontas em 1665

No século XVII, o forte é destruído por João Fernandes Vieira e ocupado por tropas luso-brasileiras, sob o comando de André Vidal de Negreiros e do general Francisco Barreto de Menezes. (...) Compreendendo a importância da fortaleza para a segurança e o controle da cidade, do ponto de vista estratégico, Fernandes Vieira ordena que a construção comece a ser restaurada em 1677. Dessa vez, os portugueses empregam um material mais resistente do que a taipa (que os flamengos utilizaram na construção primitiva), e as obras foram concluídas em 1684 (foto abaixo).

Durante essa restauração, porém, o soerguimento de um dos baluartes (ou pontas) do forte é suspenso, e a edificação fica reduzida a quatro pontas apenas (adquire a forma quadrangular), ao invés da pentagonal do início.
Mas continua a ser chamado, por todos, de Forte das Cinco Pontas (ou Vijfhoek, em holandês), por ter a forma de uma estrela. A despeito da perda de um baluarte, o local termina ficando, mediante a nova configuração, com uma área total bem maior que a anterior.
O último nome adquirido pelo forte, finalmente, é o de São Tiago das Cinco Pontas, pelo fato de haver, em seu interior, uma pequena capela dedicada a São Tiago Maior, um dos seus santos padroeiros.
Esse forte está banhado pela nossa História. São muitos os episódios. Mas eu me reservo o direito de citar seu mais precioso prisioneiro, que morreu diante de suas muralhas. Quem já leu "Auto do Frade", de João Cabral de Melo Neto, sabe do que falo. E quem não leu, que faça um favor a si mesmo e leia. Uma amostrinha:
"Ei-lo que vem descendo a escada, 
degrau a degrau. Como vem calmo. 
Crê no mundo, e quis consertá-lo. 
E ainda crê, já condenado? 
Sabe que não o consertará. 
Mas virão para imitá-lo."
Quem quiser saber mais detalhes sobre a história do forte e da ocupação holandesa, deve consultar a Fundação Joaquim Nabuco (Recife).
Frans Post, o grande pintor que veio com a comitiva de Nassau, deixou sete telas pintadas aqui. A única que fez diante da paisagem foi justamente essa em que aparece, ao fundo, o Forte das Cinco Pontas (acervo Instituto Ricardo Brennand). Ei-la:



Bairro de São José, Recife, Pernambuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário