Publicado 08/08/2012 19:51 | |
Pode ser por desinformação mesmo, por tanto depender dos canais de transmissão da imprensa estadunidense e européia. Ou pode ser por posição ideológica, pelo alinhamento incondicional às posições dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, quando não às de Israel. Num caso ou no outro, é evidente a parcialidade com que a chamada grande imprensa brasileira vem abordando as batalhas políticas e militares na Síria. No simplismo e no superficialismo que lhe são característicos, os meios passam ao público simplesmente a ideia de que se trava ali uma guerra do bem contra o mal.
Na verdade, se é para simplificar, ficaria melhor falar no mal contra o mal. Mas se é para apresentar uma visão mais aprofundada do conflito, é preciso mostrar os interesses geopolíticos, econômicos e religiosos que movem os dois lados no conflito e as atrocidades cometidas por ambos. O presidente sírio Bashar al-Assad está muito longe de ser santo. A Síria não é nenhum modelo de democracia e país que respeita os direitos humanos. Mas os “rebeldes” podem ser colocados no mesmo saco: não lutam por democracia, ao contrário do que se diz, e são assassinos, torturadores e sectários religiosos.
O Exército Livre da Síria é um agrupamento dominado por extremistas religiosos e mercenários enviados de outros países para derrubar o alauíta Assad, que ainda comete os “pecados” de ser aliado ao xiíta Irã e contraditar os interesses dos Estados Unidos, da Turquia e de países europeus na região. O ELS recebe dinheiro da Arábia Saudita e do Catar – monarquias ditatoriais – e luta com armas fornecidas por esses países, pelos Estados Unidos e por outros membros da Otan – a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Torturam e assassinam friamente os prisioneiros, como fizeram e fazem os “rebeldes” líbios. Forjam situações e cenas facilmente encampadas pela mídia, como se o uso de armas pesadas para bombardear os adversários e de violência desmedida fossem privativos do exército sírio.
Na Síria não se luta por democracia, ou por liberdades, ou pelos direitos humanos. Não aconteceu uma rebelião pacífica reprimida pelas armas, desde o início foi uma revolta armada para derrubar o governo – que obviamente resistiu. Os “rebeldes” sunitas perseguem, agridem e matam xiitas, cristãos e membros de outras tendências religiosas. Para os estadunidenses e seus aliados, unir-se a sectários religiosos, ditaduras árabes, mercenários, assassinos e até à Al Qaeda – fortemente presente entre os “rebeldes” – se justifica para quebrar o eixo Irã-Síria-Hezbolah e a influência da China e da Rússia na região.
É briga de cachorros grandes, com muitos interesses em jogo. Muito longe de ser uma batalha do bem contra o mal.
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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
O mal contra o mal, por Hélio Doyle
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