quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Cartas de Paris: O segredo das medalhas francesas


A França não está fazendo feio nas Olimpíadas este ano. Apesar de continuar longe da China e dos Estados Unidos, o país já conseguiu 28 medalhas, entre elas 9 de ouro. Além disso, todas as promessas olímpicas francesas como o judoca Teddy Riner ou o canoísta Tony Estanguet cumpriram suas metas e a França ainda teve direito a vitórias inesperadas como a do nadador Florent Manaudou nos 50 metros livre.
A surpresa é grande porque o país já teve resultados pífios em Olimpíadas anteriores. A história das vitórias francesas é recente. Após o fiasco nos Jogos Olímpicos de Roma em 1960, quando a França ficou no 25o lugar do ranking com apenas 5 medalhas, nenhuma de ouro, o país decidiu melhorar seu rendimento esportivo. Para se manter entre os 10 melhores países do mundo, o estado francês investiu – e continua investindo – pesado no esporte de base, nas escolas públicas francesas.
Todos os franceses, desde pequenos, devem “testar” vários esportes em aulas de educação física. Esta política garante a renovação do esporte a longo prazo ou, para usar um termo em voga, cria um ambiente esportivo sustentável. Os resultados estão sendo colhidos hoje.
Enquanto os franceses acreditam que é necessário formar atletas, nós brasileiros continuamos a olhar o sucesso com um certo misticismo. Acreditamos que os melhores esportistas receberam um tipo de dom divino ou algo parecido e que vão acabar se diferenciando da massa. Enquanto falamos em “esperança”, “mágica” e “milagre” para ganhar medalhas, a França fala em “objetivos”, “esforço” e “elite”.
Os raros medalhistas olímpicos brasileiros que conseguem se diferenciar enfrentam uma enorme pressão e carregam sozinhos o peso das expectativas de toda uma nação durante décadas, porque não sabemos se outros virão ocupar o lugar no pódio. São trajetórias individuais, sem continuação e muitas vezes, sem nenhum apoio. O resultado disso é uma grande frustração, tanto dos esportistas quanto dos torcedores, que se repete a cada Olimpíada.
Cabe ao estado brasileiro dar continuidade ao esforço destes atletas, sem “amarelar”. Neste sentido, o exemplo de outros países como a França pode ser muito útil.

Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

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