quarta-feira, 11 de julho de 2012

O movimento popular pela impunidade dos mensaleiros festeja a aparição do primeiro batalhão de combatentes imaginários


11/07/2012
 às 21:12 \ Direto ao Ponto

Augusto Nunes

Fundado por José Dirceu durante o congresso de uma certa União da Juventude Socialista, o Movimento Popular pela Impunidade dos Companheiros Pecadores demorou exatamente um mês para festejar o alistamento do primeiro batalhão de voluntários, formado por combatentes da  Central Única dos Trabalhadores dispostos a tudo para livrar da cadeia o bando do mensalão. A tropa é comandada pelo bancário Vagner Freitas, novo presidente da CUT, que melhorou o humor do guerrilheiro de festim com a entrevista concedida à Folha de S. Paulo.
“Todos sabem que esse julgamento é uma batalha política”, ensinou José Dirceu em 9 de junho. “O julgamento não pode ser político”, concordou Vagner Freitas em 9 de julho. “Essa batalha deve ser travada nas ruas também, com a mobilização das forças progressistas e dos movimentos populares, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas”, ensinou Dirceu em 9 de junho. “Se o julgamento não for técnico, nós questionaremos, iremos para a rua, porque a CUT não vai ficar olhando”, concordou Freitas em 9 de julho.
Por enquanto, o batalhão só existe na cabeça do chefe. É provável que nunca saia de lá. Sem as duplas sertanejas, o oceano de tubaína e sanduíches de mortadela em quantidade suficiente para alimentar um Sudão, manifestações convocadas pela CUT juntam menos gente que quermesse de vilarejo. No dia 29 de junho, por exemplo, a entidade tentou vitaminar a candidatura de Fernando Haddad com um ato de protesto contra as carências do transporte público em São Paulo. Atenderam à convocação pouco mais de 2 mil militantes.
“Se eu ficar dez minutos batendo lata no Viaduto do Chá, reúno cinco mil pessoas”, dizia Jânio Quadros. A maior metrópole da América Latina tem público para tudo ─ até para malucos espancando bumbos de alumínioo. Mas vai ficando cada vez mais complicado encontrar espectadores para a farsa encenada por velhacos que, tão dependentes da mesada do governo quanto a pelegagem que desancavam no século passado, seguem caprichando na pose de fundadores do sindicalismo moderno.
O raquitismo das plateias contrasta com a arrogância da turma no palanque, e escancara o abismo escavado entre o discurso dos líderes  e o que interessa aos liderados. Pelo que dizem os dirigentes, os trabalhadores filiados à CUT têm no momento uma só preocupação e um único pleito: insones por causa do iminente início do julgamento, sonham acordados com a absolvição dos réus. O resto é o resto. A paralisação das universidades federais, as greves que se alastram por mais de 20 categorias do funcionalismo público, os solavancos da inflação,  o emagrecimento da indústria, o PIB anêmico ─ tudo isso pode esperar. O que importa é obrigar o STF a inocentar os mensaleiros.
Para tanto, é fundamental que o julgamento seja “técnico”. “Minha expectativa é que os ministros do Supremo Tribunal Federal julguem segundo os autos”, declamou nesta terça-feira o inevitável Rui Falcão. “E julgando segundo os autos não há base para condenação”, delirou de novo o presidente do PT. A versão governista da história, diria Stanislaw Ponte Preta, já descambou para o perigoso terreno da galhofa.
Investigações realizadas pela Polícia Federal e por uma CPI ergueram um himalaia de provas. A devastadora denúncia encaminhada ao STF pelo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza foi encampada pelo Supremo. O processo tem quase 70 mil páginas. Mas a tribo dos cínicos jura que o mensalão não existiu. “O que houve foi uma tentativa de golpe contra o meu governo, tramada pela oposição com o apoio de setores da mídia”, descobriu Lula quatro anos depois do desbaramento da quadrilha.
“O que houve foi uma tentativa de golpe contra o presidente Lula”, repetiu nesta segunda-feira Artur Henrique, de saída da presidência da CUT. Ainda indignado com a destituição do companheiro Fernando Lugo, ele lembrou que “esse ataque à democracia pode acontecer no Brasil”. Uma pausa precedeu as perguntas tremendas: “Ou não foi isso que tentaram neste país em 2005? Ou não tentaram depor e derrubar o presidente Lula com o apoio da imprensa?”
Se acredita nisso, Artur Henrique precisa comunicar à presidente Dilma Rousseff que está ameaçada de despejo por um complô que junta ministros do Supremo, procuradores-gerais da República, FHC e, claro, a mídia reacionária, colocada sob suspeita também por Márcio Thomaz Bastos. “A imprensa tomou partido nesse caso”, alertou o doutor predileto da bandidagem em 9 de junho. “Faz publicidade opressiva”.
Conversa de vigaristas. O Brasil decente espera que, como deve ocorrer em qualquer julgamento, os ministros do STF deliberem com base nos autos. Lá estão as incontáveis provas dos crimes praticados pela quadrilha federal. Quem sempre sonhou com um julgamento político foi o principal beneficiário das bandalheiras. Nos últimos meses, Lula andou visitando ministros que nomeou para lembrar-lhes que a absolvição dos pecadores seria uma bem-vinda demonstração de gratidão. A súbita acrobacia semântica deve ter confundido o chefe.  Se inocentar os réus, o STF terá feito um julgamento técnico. Se optar pela condenação, terá promovido um julgamento político.
O acervo de espantos da Era Lula já inclui um presidente que não sabe escrever e nunca leu um livro, uma presidente incapaz de dizer coisa com coisa, um senador que revogou o irrevogável, um ministro da Fazenda especializado no estupro de sigilo bancário, um trem-bala que só apita no PAC, um ministro da Indústria que quebrou uma fábrica de tubaína com dois ou três conselhos, um ministro da Pesca que não sabe colocar minhoca em anzol, um ministro da Educação que acha certo falar errado, um advogado que virou ministro do STF depois de reprovado em dois concursos para o ingresso na magistratura e, entre tantas outras esquisitices, a CUT.
Se tiver algum juízo, a única central sindical do mundo que se acha única embora existam mais cinco esquecerá a ideia de ampliar o acervo com o movimento pró-corrupção. Qualquer entidade pode discordar de uma decisão do STF. Nenhuma pode negar-se a respeitá-la. Se consumar a afronta, a CUT se transformará numa organização fora-da-lei em guerra contra o Estado de Direito. Um caso de polícia, que como tal será tratado.

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