quinta-feira, 21 de junho de 2012

Cachoeiragate: juiz sob suspeição alega que seu filho usou celular do filho de Cachoeira na escola



O juiz federal Leão Aparecido Alves, que se declarou impedido de assumir o processo do caso Cachoeira, divulgou nota nesta quinta (21). No texto, o magistrado nega que ele ou sua mulher, Maria do Carmo Oliveira Alves, tenham vazado informações sigilosas da Operação Monte Carlo para membros da quadrilha de Carlinhos Cachoeira.
A Polícia Federal quebrou o sigilo da conta de um celular da mulher de Leão. Encontrou no extrato ligações recebidas de um aparelho registrado em nome de pessoa vinculada a Cachoeira. O juiz alega que quem estava do outro lado da linha era seu filho, não um preposto do controventor.
“Meu filho e um dos filhos do sr. Carlos Cachoeira estudam, há 5 anos, na mesma sala de aula”, anotou Leão. “Ambos dispõem de telefones celulares. Assim como o aparelho usado por meu filho está em nome da mãe dele, o aparelho utilizado pelo filho do sr. Carlos Cachoeira está registrado em nome dos familiares ou empregados respectivos.”
O magistrado acrescentou: “Em não raras ocasiões, meu filho utilizou o telefone celular do filho do sr. Carlos Cachoeira para entrar em contato com a mãe dele. Dessa forma, as conversas mantidas pelo meu filho e pelo filho do sr. Carlos Cachoeira, com o uso desses aparelhos, foi, de forma apressada e irresponsável, apresentada como prova de que eu ou minha mulher teríamos mantido contato com integrantes da suposta quadrilha.”
Leão lamentou que os diálogos telefônicos não tenham sido grampeados: “Melhor seria se tivesse havido a interceptação telefônica, porque nesse caso a exibição das conversas seria o suficiente para expor a verdade. Na ausência da interceptação, qualquer ilação quanto à natureza e ao conteúdo das conversas é mera especulação.”
A PF também farejou o número do celular de Maria do Carmo, a mulher do juiz, ao rastrear as ligações recebidas por José Olímpio de Queiroga Neto, sócio de Cachoeira e um dos réus da Monte Carlo. Na nota, o magistrado escreveu: Minha esposa fez várias ligações para a irmã de José Olímpio.”
O juiz informa: a irmã do réu e o ex-marido dela “batizaram meu filho em 1999.” Acrescenta que a interlocutora de sua mulher não é acusada na ação penal que resultou da Operação Monte Carlo.”
Em diálogo grampeado pela PF em 7 de fevereiro de 2012, Cachoeira menciona o nome do magistrado numa conversa com um de seus comparsas: “Dia 14 o Leão assume a Vara e ela ficou de avisar se vai ter prisão ou não.” E o juiz Leão: “Não podemos nos responsabilizar pelo que terceiros atribuem a mim e a minha esposa em conversas telefônicas.”
Onde a PF enxerga razões para a suspeição, Leão vê o contrário: “…O teor da conversa prova a inocência da pessoa acusada, porque se eles foram presos significa que ela [Maria do Carmo] não avisou. Se os acusados tivessem recebido um alerta sobre a decretação das prisões em 14 de fevereiro de 2012 teriam tido muito tempo para se esconderem, porquanto as prisões somente foram efetuadas em 29 de fevereiro de 2012.”
O magistrado repisa: “Essa é a maior prova de que os investigados não receberam informações privilegiadas de quem quer que seja.” Nesse ponto, a nota de Leão destoa dos fatos. Gravações trazidas à luz pelo repórter Eduardo Militão nesta quinta (21) revelam que José Olímpio Queiroga Neto informou a Cachoeira sobre a existência da investigação 27 dias antes da deflagração da Monte Carlo.
Queiroga conhecia detalhes –do nome da operação ao envolvimento do senador Demóstenes Torres com a quadrilha. A Monte Carlo só não desandou, demonstram os grampos, porque Cachoeira não deu crédito ao comparsa. Quer dizer: alguém vazou informações para Queiroga. Quem? É o que a PF tenta descobrir.
“Tenho a convicção de que a investigação inocentará as pessoas atualmente colocadas, apenas com base no que terceiros disseram em conversa telefônica, na condição de suspeitos”, escreveu o juiz Leão em sua nota.

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