A superficialidade que perpassa as análises sobre o Brasil de hoje é a mesma que mal avaliou os riscos de explosão do sistema financeiro internacional em 2008.
Após o pálido desempenho do PIB brasileiro em 2011 e início de 2012, no mercado, para muitos, a “Brasilmania” acabou. É o que dizem analistas e entendidos em economia mundo afora.
No entanto, as declarações são patéticas e fruto de um grande “enrolation”. Não por serem negativas, mas por serem desfocadas da realidade e imprecisas.
Ora, qualquer um sabe que o Brasil tem graves problemas que impedem o país de se realizar como uma potência de crescimento espetacular.
Quando acreditavam que o Brasil decolaria rumo ao sucesso absoluto, estavam sendo pueris. Quando agora dizem que a festa acabou e que ficou tudo como antes, também erram grosseiramente.
Na atualidade, vivemos ainda em um ciclo que começou com o Plano Real e teve seus momentos de euforia e de decepção. Reflexo preciso do que somos: um país de imensas oportunidades e potencialidades, mas com sérios entraves.
Recentemente, começou a predominar uma visão mais negativa do país, com base em resultados do passado recente. Muitos estão errando, por preguiça intelectual e/ou desinformação, pensando que os resultados ruins de hoje são a tendência do futuro.
É o mesmo erro cometido recentemente, quando se projetou para o futuro os resultados positivos de 2010 como tendência firme.
A questão do desempenho do Brasil exige análises mais profundas e detalhadas que, lamentavelmente, poucos no mercado podem fazer. E pouquíssimos no exterior. Seja por preconceito ideológico contra o governo atual seja por desconfiança da instituição “governo”.
Para piorar, a análise política da economia no Brasil é contaminada tanto pelos ingredientes ditos “neoliberais” quanto pelo esquerdismo infantil que predominou em nossa academia. E ainda por uma violenta carga de desinformação.
Outro cacoete das análises é ser negativo, já que é melhor justificar o erro do sucesso improvável do que ser tachado de otimista com visão rósea do país. Considerando o “track record” do Brasil, a aposta mais segura é no pessimismo.
O Brasil de hoje é muito melhor do que o Brasil dos últimos anos, e, mesmo crescendo pouco, estamos em excepcional situação para prosseguir gerando renda e emprego sem ser fiscalmente irresponsável. O que, no limite, é o que importa. O desemprego no país caiu para 6% em abril, ante 6,2% em março, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado do mês passado é o melhor para abril desde 2002, quando iniciou a série histórica. Apesar de ter havido queda na renda média do trabalhador em abril em relação a março (-1,2%) deste ano, em relação a abril de 2011, houve alta de 6,2% na renda, a maior expansão para o mês verificada desde o início da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) iniciada em março de 2002.
Por outro lado, temos características e vantagens que nos tornam razoavelmente protegidos do que acontece no resto do mundo. O Brasil é um país globalizado, mas não internacionalizado a ponto de nossa economia parar em função do quadro externo.
O desaquecimento de 2011 e do primeiro trimestre de 2012 decorre muito mais das medidas anti-inflacionárias implantadas no ano passado, de nossas limitações tributárias (carga e complexidade) e da falta de competitividade do que do mundo exterior.
No final do ano, provavelmente, estaremos em um novo ciclo de crescimento. Provavelmente será um voo de galinha, por conta dos fatores negativos apontados e que nos atrapalham.
Entretanto, o melhor de tudo é que o governo está percebendo as reais limitações de nosso modelo e deve trabalhar para reduzi-las. Assim espero.
Murillo de Aragão é cientista político
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