Conta a história que no dia 26 de janeiro de 1926, Ernest Kanzler, um executivo da Ford e então cunhado de Edsel, filho único de Henry Ford, recorreu a um memorando de sete páginas entregue em mãos ao próprio Henry, para alertá-lo sobre as baixas nas vendas do seu produto carro chefe, o lendário Ford T.
Não só isso, no memorando, Kanzler ainda explicou de forma detalhada como a General Motors, sua principal concorrente à época, vinha exibindo uma crescente constante em suas receitas por apresentar ao mercado carros de diferentes cores e preços, uma estratégia que foi definida por Alfred P. Sloan Jr, o então CEO da companhia, como “um carro para cada bolso e para cada objetivo”, ao contrário do Ford T, que ficou conhecido por ser um “carro universal”.
Mesmo Kanzler gastando inúmeros parágrafos visando apenas amaciar o ego do sr. Ford antes de dar a notícia derradeira, o documento ainda assim não foi suficiente para fazer um dos maiores engenheiros que o mundo já conheceu acordar. Como forma de repudiar tal ousadia, Ernest Kanzler acabou sendo demitido pouco tempo depois.
Como se não bastasse a calamidade desse fato isolado, ao demitir Kanzler, Ford passou um recado aos seus demais funcionários que permaneceram na empresa: se ele foi capaz de demitir um colaborador próximo a sua família por apontar verdades óbvias naquele momento, e que eram do conhecimento de toda a nação, seria capaz de demitir quem quer que fosse.
Uma perigosa cultura de eliminar o mensageiro e não o problema havia sido criada. Ao narrar tal passagem, o professor de Harvard, Richard S. Tedlow, conta em seu livro Miopia Corporativa, que Ford caiu nesse erro porque a fantasia de que basta se livrar do mensageiro para desqualificar uma mensagem é um pensamento capaz de seduzir qualquer um, até mesmo o fabuloso CEO automobilístico.
A negação de Ford aos fatos apresentados custou a sua empresa a perda da liderança para a GM por quase oito décadas (com exceção de três anos: 1929, 1930 e 1935). O fato é que, até os últimos anos de sua vida, Henry Ford nunca mudou.
No final da Segunda Guerra Mundial, sua organização estava à beira da falência e só foi salva graças ao seu neto, Henry Ford II, que assumiu a organização e, com a ajuda de um grupo de ex-oficiais da Força Aérea norte-americana chamado Whiz Kids, contratados para revolucionar a empresa com técnicas de gestão, a trouxe de volta à vida.
Eliminar o mensageiro só demonstra o quanto a cultura de uma empresa, que em 99% dos casos é representada pelas crenças, valores e atitudes dos donos, está despreparada para enfrentar os problemas que fatalmente aparecerão em seu dia a dia.
Eliminar o mensageiro é uma maneira covarde de dizer a si mesmo que tudo está correndo bem, enquanto os demais funcionários da organização sabem que as coisas poderiam melhorar, caso alguém tivesse liberdade para se manifestar sem medo de colocar o seu cargo em risco.
Desejo honestamente que os empreendedores do futuro, e também você, se essa for a sua atividade profissional, foquem sua atenção visando eliminar o problema, e não mais o mensageiro.
Porque o dia em que os mensageiros resolverem se calar, aí sim você sentirá o peso da sua imaturidade gerencial, e sozinho, pois dessa vez, você não terá mais ninguém em quem por a culpa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário