Quando eu era moleque – e agora vou entregar minha idade – um filme fez muito sucesso, chamado “A vingança dos nerds”. Era meio besteirol, mas retratava a reação tardia daqueles que sofriam bullying na juventude por serem mais esquisitos, com elevado QI, mas baixo porte atlético. Eles colocaram a inteligência a cargo da coragem e conseguiram dar uma lição dos brutamontes descerebrados.
De fato, alguns anos depois, vimos a verdadeira “vingança dos nerds” no Vale do Silício, com o setor mais dinâmico da tecnologia produzindo bilionários e milionários aos montes. O fundador do Facebook é um caso clássico, como Bill Gates, da Microsoft. Os nerds realmente provaram seu valor, produzindo bens e serviços amplamente demandados pelos consumidores.
Mas há uma categoria que ficou para trás e, com profundo rancor, também tenta se vingar dos melhores, dos que se destacam pelo próprio mérito. Ao contrário dos nerds, porém, não fazem isso criando nada de valor, e sim ocupando cargos no poder para infernizar a vida dos seres produtivos. Estamos diante de uma “vingança dos improdutivos”, encastelados na burocracia que só cria dificuldades legais para vender facilidades ilegais depois ou para punir mesmo os criadores de riqueza.
Esse foi o tema da coluna de Luiz Felipe Pondé na Folha hoje, citando inclusive Ayn Rand, a filósofa russa ignorada na Academia por ser radical demais na defesa do liberalismo, doutrina inaceitável nos meios universitários. Esses improdutivos tomam a imensa máquina estatal e dela abusam para dificultar ao máximo possível a vida daqueles que querem produzir. Diz Pondé:
No Brasil, abrir uma pequena empresa é um inferno de impostos e siglas, que, por sua vez, se constituem num mercado tecnocrático em si, fazendo do infeliz empreendedor um desgraçado a mercê da última invenção de algum burocrata de Brasília. E todos os neolíticos que apostam na máquina do Estado para fazer “justiça social” batem palmas para essa metafísica do Sudão.
Este tipo de cultura atrasada faz com que aqueles que nada produzem mandem no processo, obrigando você a produzir nada (servindo as exigências burocráticas deles) ou a produzir irrelevâncias que, por si só, servem aos esquemas burocráticos.
Num universo como este (um novo círculo do inferno de Dante), o dinheiro se torna refém de quem nada produz, mas detém os mecanismos de tortura sobre suas vítimas, os produtivos, que os carregam nas costas. Servir a essa máquina se torna a garantia de permanecer existindo dentro dessa cadeia, supostamente produtiva, mas onerada pela metafísica do Sudão que a alimenta.
A corrupção é sintoma claro desse poder todo concentrado nas mãos dos burocratas. Quando o estado estende seus tentáculos a cada canto da economia, claro que todos se tornam seus reféns, e os burocratas, com suas canetadas poderosas, podendo aplicar seletivamente leis absurdas e arbitrárias, conseguem explorar isso como parasitas que vivem acoplados aos hospedeiros.
“Quando produtivos dependem de improdutivos para produzir, estamos numa fria”, resume Pondé com base em Ayn Rand. Todo esse aparato burocrático criado no país serve aos que vivem de “produzir” amarras aos produtivos, dificultando a vida de todos, limitando o avanço econômico, atrasando o progresso. Por trás disso está o oportunismo dos parasitas, claro, mas também seu rancor, seu recalque com aqueles que, de fato, são melhores, mais eficientes, mais ousados.
Pondé também compreende o fenômeno do ponto de vista psicológico, ao concluir: “Imagino um desses improdutivos, com os olhinhos brilhando, acordando de manhã e se perguntando: como posso tornar a vida dos produtivos mais miserável hoje?” Se a “vingança dos nerds” serviu para a produção de várias coisas úteis e desejadas, a “vingança dos improdutivos” não serve para absolutamente nada que preste. É só recalque mesmo, puxando todos para baixo como uma reação vingativa de quem não consegue se erguer por conta própria.
Rodrigo Constantino
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