quinta-feira, 2 de abril de 2015

Cultura da corrupção começa na escola e se pratica na vida inteira



Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Gustavo Matsuo

Conversando com professores universitários, chega-se a triste conclusão de como o brasileiro está perdendo suas referências morais. Este é um alerta importante, frente à toda situação que tem sido criada desde os últimos escândalos de corrupção no país.

Primeiro, vem a questão bastante discutida em períodos eleitorais e devidamente esquecidas durante os respectivos mandatos sobre a progressão continuada, uma aberração que não avalia o desenvolvimento do aluno no ensino público do país.

Sem desafios, uma geração inteira (e parte da próxima) está sendo criada com a espírito do pagode - “deixa a vida me levar”. Sem se preocupar com possíveis barreiras à sua progressão escolar, o aluno pode cantarolar ainda que “sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu”. O espírito de acomodação geral está plantado na alma desses jovens brasileiros desde a infância. Se algo der errado, “foi porque Deus quis”.

“Não faz mal se não aprendeu, se não se esforçou, se não se dedicou. Você vai continuar “progredindo”, caro aluno”.  Esse é o espírito da coisa.

Retórica que funciona

Nas eleições, o tema Educação sempre pega bem. Os consultores de marketing político e eleitoral sempre colocam a questão em pauta como um dos pilares dos candidatos. E por quê?

Os temas “saúde” e “segurança” são importantíssimos, ainda mais nos dias de hoje. Mas sempre vão lembrar situações desagradáveis. Todos já passamos ou conhecemos alguém que passou por algum perrengue relacionado aos temas. Uma doença, um mau diagnóstico, um mau atendimento, um assalto, um furto, etc.

Já “educação” remete ao futuro. Principalmente a dos filhos. Pais se preocupam com a educação porque, no íntimo, sabem que é o único meio de melhorar as chances de crescimento pessoal e profissional, além da ascensão social de seus filhos.

Por isso, o tema é tratado com destaque nas campanhas eleitorais. Rende
simpatia. Rende votos.

Interesses da progressão continuada

Um dos motivos de se manter o projeto é eliminar o gargalo nas séries iniciais, onde havia um grande índice de reprovação, superlotando salas. Essa é a justificativa oficial. No entanto, basta analisar o que as pesquisas demonstram para observar que os números da educação refletem em indicadores utilizados para análise político-econômico-social por entidades e organismos internacionais e multilaterais.

Apenas para citar um exemplo, temos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pelo  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A partir deste índice, os países são classificados como “desenvolvidos” ou “em desenvolvimento”. Neste programa criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), três pilares formam a base da avaliação: Educação, Longevidade e Renda). Portanto, apresentar números volumosos nos níveis de educação fundamental, ensino médio e graduação, melhoram a classificação do Brasil no IDH.

Certamente, esse, e outros índices, cooperam na obtenção de outras vantagens para governos, como financiamentos em instituições multilaterais, e para divulgar a evolução do país confrontando dados atuais com os de antecessores.

O próprio ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, orgulha-se de que “colocou mais gente na faculdade que todos os governos anteriores”. Certamente, os programas sócio-educacionais criados na sua gestão ou em gestões anteriores ganharam grande impulso desde o seu governo: ProUni e FIES.

Concedendo bolsas parciais ou integrais em Instituições de Ensino Superior particulares, o Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado em 2005 e tem como base a nota dos alunos e a situação sócio-econômica para obtenção do benefício. Professores relatam que vários dos melhores alunos de suas turmas são participantes deste projeto.

Já o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) é o grande patrocinador deste grande crescimento de alunos no ensino superior. Criado em 1999, ganhou impulso nos últimos 4 anos, principalmente pela forte atuação comercial de instituições privadas no país. Desde o começo do ano, tem sido o protagonista de humilhações de alunos que sonhavam com a faculdade e que passaram a viver um grande e longo pesadelo em busca de uma das limitadas vagas para 2015.

Corrupção: formando a cultura de um país

Desestimulados, desmotivados e desvalorizados, os professores que tinham o ideal de participar da formação de cidadãos, enfrentam a falta de condições mínimas de infraestrutura nas escolas. Sem um instrumento que lhe permita alguma ascendência sobre os alunos – a prova, resta-lhes controlar a frequência em sala. Ou nem isso.

Ao se deparar, já no ensino médio ou na graduação, com avaliações, o aluno sente-se acuado e tentado a recorrer ao popularmente conhecido artifício da “cola”. Em salas superlotadas, o professor simplesmente não tem condições de controlar seu uso, que, de indiscriminado, passa a ser institucionalizado.

Cola é fraude. Fraude é ilícito e má fé. E má fé é algo imoral. Basta lembrar que a Moral é, na origem latina, um comportamento aceitável na sociedade. Mas, pelo andar da carruagem, a fraude, o ilícito, a má fé, a corrupção, estão se tornando aceitáveis como “mal menor”.

Mal é mal. Não importa se pequeno, médio ou grande. É mal. Se algo é mal e prejudica a alguém, deve ser rejeitado pela sociedade, por impedir o convívio harmonioso nas relações sociais.

Mas, da aceitação de pequenos ilícitos “que não causam mal a ninguém”, forma-se a cultura de pequenas corrupções que estão acabando com a moral de nossa sociedade.

Respeito nas escolas

Se, na avaliação de seu desempenho, o aluno se propõe a fraudes, que outros valores ele pode ter na vida?

Os alunos pensam na cola, quando são pegos, no desrespeito ao professor. Mas, no fundo, a cola é uma falta de respeito consigo mesmo (a falta de disciplina, comprometimento e a acomodação lhe fazem um cidadão de segunda classe), com o professor, obviamente, com a instituição de ensino (que lhe outorgará uma certificação que, no fundo, foi obtida com fraudes) e com todos os colegas honestos, que ao contrário dele, está buscando aprimorar-se.

Interesses profundos

A quem interessa essa geração apática, descompromissada e acomodada? Obviamente servem aos interesses de quem os quer formando a grande massa, manobrável e condutível, mantendo-se no poder de modo “democrático”. Se assim continuar, estamos caminhando para uma ditadura legitimada, endossada e aceita pela vontade do povo, por meio do voto nas eleições. Povo esse, formado por uma massa conduzida pela comunicação de governos que, literalmente, os criaram para serem manobrados.

Amoral, ou seja, sem capacidade de julgamento do que é moral ou não, a maior parte da sociedade perde as balizas e segue sem rumo, conduzida pela minoria que os mantém a “pão e circo”, aceitando como normal qualquer dimensão do que é corrupção, fraude, ilícito, legal ou, em última instância, moral.

Na imagem que abriu esse artigo, vemos uma frase do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores, no dia 31 de março de 2015, em defesa da estatal envolvida em esquema de corrupção: “Olha, canalha já nasce canalha. Bandido já nasce bandido. A gente não pode aceitar essa violência, que tem muita coisa por trás, que é a banalização, a criminalização de uma empresa do porte da Petrobras, a quem nós, brasileiros, devemos tanto”.

Dizem que o que falta no país é educação. Não é. Falta CULTURA. E a boa cultura. Houvesse uma cultura de moralidade, esse tipo de declaração seria insipiente, insensato. Qual o papel da família, e da escola, na formação da moral e na correção do caminho dos alunos, se há, segundo palavras deste líder, um determinismo que indica que não se molda o caráter de um cidadão?

Se não houver uma mudança imediata, passaremos dessa situação de imoralidade para amoralidade. Hora de agir.


Gustavo Matsuo é publicitário e analista de mercado.

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