Melissa de Andrade
O bairro mais famoso de Seattle pode estar perdendo sua característica principal: a diversidade.
Capitol Hill é cheia de cafés, restaurantes e sacadas de apartamento com bandeiras do arco-íris. Mas a concentração de casais do mesmo sexo que moram no bairro caiu 23% de 2000 a 2012. Praticamente todos os outros bairros de Seattle apresentaram população maior no período.
Isso pode significar três coisas. Primeiro, a especulação imobiliária não distingue orientação sexual: casais gays e casais héteros são igualmente "expulsos" do bairro pelos preços nas alturas de aluguéis e venda de imóveis. O impacto maior é, porém, é na comunidade gay, estabelecida na área desde os anos 60.
O segundo motivo pode ser a liberalidade de Seattle. Os casais homoafetivos não têm mais que se restringir a um único bairro para garantir aceitação e segurança. Desde que o casamento igualitário virou lei em Washington, onde fica Seattle, há um ano e meio, milhares de casais oficializaram a união. Faz tempo que Capitol Hill não é mais o único bairro da cidade em que é comum encontrar homens andando de mãos dadas ou mulheres cochichando romanticamente ao pé do ouvido.
O terceiro motivo é o mais prosaico. Capitol Hill é o bairro moderninho e divertido: tem as melhores baladas da cidade, as melhores noitadas, os melhores bares. Tudo parece ser festa. É um bairro de solteiros e pegação. Não é surpresa que, com o tempo, os casais se mudem mesmo de lá. Gays ou hétero.
Um em cada nove casais homoafetivos moravam em Capitol Hill em 2012, quando os dados do último censo foram coletados. Uma década antes, era um em cada seis. O mesmo censo indica que há 7.500 casais em Seattle, 50% a mais do que no ano 2000. Na Grande Seattle, o crescimento foi de 22% no período. Os números atuais devem ser bem maiores, já que esses dados são anteriores à lei do casamento igualitário.
A revolução demográfica de Capitol Hill deve ser uma combinação de fatores, mas não é um fato isolado. O socialista Amin Ghaziani explica no livro “There Goes The Gayborhood? como tradicionais redutos gays em cidades como Nova Iorque, Chicago e São Francisco estão ficando com uma população maior de heterossexuais. O estudioso diz que uma maior tolerância reduz a pressão pela existência de guetos, ao mesmo tempo em que homens e mulheres hétero não têm restrições a se mudar para essas áreas.
Se maior tolerância for a razão do novo perfil da população de Capitol Hill, um viva aos novos tempos.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
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