Albert Steinberger
Passei as últimas oito semanas na missão Copa do Mundo e o mundial de futebol é um momento em que o nacionalismo se exalta. Ali somos mais brasileiros do que nunca, com direito a bandeira verde-amarela e hino nacional. Mas eu me encontrava em uma situação curiosa. Para meus amigos e familiares, eu era o alemão. E olha que ser chamado de alemão no Rio de Janeiro não costuma ser uma coisa muito positiva.
Eu estava trabalhando com uma TV germânica e havia chegado de Berlim para cobrir a Copa. Isto sem mencionar o meu nome enrolado e impronunciável. Mas para os meus colegas de trabalho alemães, eu era o brasileiro, que explicava e traduzia aquilo que não era evidente aos olhos. Pensava em pautas e produzia reportagens sobre o Brasil para o Hans, o típico alemão que assistia a Copa de um sofá há mais de dez mil quilômetros de distância.
Sessenta e quatro jogos e muitos choques culturais depois, a Alemanha se sagrou tetra-campeã do mundo. Alguns amigos brasileiros chegaram a me dar os parabéns. Eu meio sem saber o que dizer agradecia, mas confessava que preferia ver o Brasil campeão. Embora acompanhe e goste do futebol alemão, há algumas coisas que são tatuadas em nosso coração de uma maneira muito definitiva na nossa infância e adolescência. Esta é uma delas.
Talvez seja algo parecido com o que tenha vivenciado um outro Albert Steinberger, o meu avô, que migrou da Alemanha com 19 anos para o Brasil na década de 30, mas nunca abriu mão do passaporte germânico. No entanto, ele contava que nunca teve a sensação de realmente pertencer a um lugar. Nem mesmo quando visitou a Alemanha décadas depois.
Um alemão no Brasil que não se identificava mais com a Alemanha, mas tampouco era brasileiro. Usava umas expressões engraçadas e meio foras de moda, de acordo com os seus parentes que haviam ficado na Europa. Achou seu refúgio em Nova Friburgo, em meio a uma colônia de alemães que viviam na mesma situação.
Desde a primeira vez que morei fora, me dei conta de que algo em mim mudara. Plantar sementes e fazer amigos pelo mundo, significa sentir constantemente saudade de alguém e sentir falta de algo. Conforme o tempo passa e as raízes no novo local crescem, aumenta uma sensação de ser diferente, meio torto.
Já o meu refúgio são eventos em que se misturam nacionalidades e línguas. Em que curiosos experimentam o novo e quebram as tradições. Trocam-se cervejas, comidas, costumes e formas de ver o mundo. Ali me sinto em casa e acho que melhoro como ser humano mesmo. Com menos preconceitos e um horizonte mais amplo. Deste ponto de vista, para mim #teve Copa!
Albert Steinberger é repórter freelancer, ciclista e curioso. Formado em Jornalismo pela UnB, fez um mestrado em Jornalismo de Televisão na Golsmiths College, University of London. Atualmente, mora em Berlim de onde trabalha como repórter multimídia para jornais, sites e TVs. Escreve qui todas as terças-feiras.
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