Tereza Cruvinel
(Correio Braziliense)
Desde domingo, estamos sob o estrépito dos fogos detonados pela surpreendente aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, seja de contentamento, despeito, seja de estranhamento. Todo foguetório levanta e espalha uma fumaça impressionista, que turva a visão de todos, tirando a nitidez das formas e dos conteúdos. Evidência disso são as avaliações e leituras para todo gosto e para todas as conveniências que circulam no meio político.
Muito falta ainda para ser visto, dito e compreendido, especialmente no que diz respeito ao destino dos votos de Marina. Mas, abstraindo o brilho da novidade, algumas leituras iniciais já podem ser relativizadas, especialmente quanto aos riscos para a candidatura de Dilma Rousseff e à perda de consistência da candidatura tucana de Aécio Neves.Comecemos por este segundo aspecto. É verdade que o novo eixo da disputa representará para os eleitores uma alternativa à polaridade PT-PSDB. Uma nova força agregará novas ideias e enriquecerá o debate sucessório. Já a conclusão de que Aécio será fortemente prejudicado pela emergência da nova chapa, antes de qualquer indicação das pesquisas, é, no mínimo, precipitada.
Os tucanos estão naturalmente cuidadosos, saudando a nova aliança como sinal de que os tempos do PT no poder estão chegando ao fim. Mas o que garante, hoje, que a chapa Campos—Marina será mais forte do que a do candidato tucano?
O senador Aloisio Nunes Ferreira, que é um tucano imune a estridências e um analista racional, recorda as bases concretas de que disporá seu partido na disputa: “O campo da oposição se alargou e isso é bom. Mas o PSDB continua sendo o partido de oposição com maior capilaridade, organizado em todo o país. Governa mais de 700 municípios e dois estados de alta relevância política e econômica, como São Paulo e Minas Gerais. Tem um programa histórico e terá uma plataforma consistente de mudanças para o Brasil. Terá candidatos fortes em boa parte dos estados. Acreditamos que haverá segundo turno e que estaremos nele, unificando a oposição em torno de nosso candidato. Mas discutir isso hoje não tem sentido. O processo trará todas as respostas”, diz ele, evitando comparações negativas com o PSB e a Rede, em todos esses aspectos.
Nunes Ferreira não afasta a hipótese de que haja troca de candidato, lembrando que o acordo entre Aécio e José Serra que levou à permanência deste último no PSDB previu uma avaliação do potencial de cada um em março do ano que vem. Isso, porém, não afetaria os pilares tucanos na disputa.
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