COLUNA NO GLOBO
Na campanha eleitoral de 2010, o marqueteiro João Santana escolheu ligar a então candidata Dilma Rousseff à mobilidade. Ela aparecia se deslocando por todo o Brasil em transporte rápido e eficiente. Mas no governo dela o que houve foi uma piora da logística. Não é que o Brasil estivesse bem antes, mas, apesar de um agravamento ser impensável, foi o que aconteceu, segundo pesquisa.
O custo logístico de produção no Brasil é alto e você já sabe disso, mas o que o Instituto Ilos de Logística e Supply Chain mostrou em um congresso internacional esta semana é que ficou mais caro entre 2010 e 2012. Uma pesquisa do instituto constatou que houve o primeiro aumento de custo desde 2004, em relação ao PIB. O Brasil vinha melhorando devagar, mas teve um piora no governo Dilma. O aumento do custo supera R$ 100 bilhões para quem usa os serviços logísticos no Brasil.
Os gastos das empresas com transporte, armazenamento, administração e estoques subiram de 10,6% do PIB para 11,5%, com forte aumento dos transportes. Em termos nominais, houve salto de R$ 391 bilhões para R$ 507 bi com logística. O governo falou muito, mas não executou. As ferrovias estão estagnadas há 10 anos.
De dois em dois anos o Instituto Ilos faz uma pesquisa sobre os custos logísticos no Brasil. Desde 2004, o primeiro ano da série, até 2010, houve quedas desse gasto como proporção do PIB: de 12,1% para 11,5%, entre 2004 e 2006; para 10,9% até 2008; 10,6%, em 2010. Mas agora, em 2012, houve a primeira alta, para 11,5%.
— A economia cresceu pouco e a demanda por transporte continuou crescendo muito, cerca de 5% ao ano. A produção agrícola aumentou e houve interiorização da produção, que fez a carga percorrer distâncias maiores. A política de incentivo à compra de carros aumentou o número de veículo nas estradas. A velocidade média dos caminhões diminuiu — explicou Maurício Lima, diretor do Ilos.
O uso do modal rodoviário subiu de 66% para 67% na matriz de transportes. Isso quer dizer que mais de dois terços das cargas transportadas passaram pelas estradas. As ferrovias perderam participação, indo de 19% para 18%. A escolha do Brasil pelas rodovias é uma insensatez econômica: o custo de transporte rodoviário é cinco vezes maior do que o ferroviário, US$ 122 tku (toneladas transportadas por quilômetro útil,) contra US$ 22. Nos EUA, apenas 30% das cargas passam pelas rodovias, enquanto 38% se movem pelos trilhos.
Em 2003, o governo Lula lançou o Plano de Revitalização de Ferrovias. Depois, vieram PAC 1 e PAC 2. No ano passado, a presidente Dilma anunciou o Plano de Investimento em Logística. Nada deu resultado. A malha ferroviária era de 29.798 quilômetros em 2003, fechou 2012 em 30.379 quilômetros. Alta de 0,02%.
— Deveríamos ter 52 mil quilômetros de ferrovia para atender à demanda. Há falha de planejamento para o setor ferroviário — explicou o presidente da Associação de Transportes Ferroviários, Rodrigo Vilaça.
O uso do transporte rodoviário tem outras consequências. A balança comercial passou todo o ano em déficit pelo forte aumento da importação de diesel e gasolina. A Petrobras é afetada porque é obrigada a vender combustíveis a um preço mais baixo do que paga na importação. Segundo Maurício Lima, 56% do diesel consumido no país são para transporte de cargas.
Isso tira produtividade das commodities agrícolas. No caso da soja, o bom preço manteve a rentabilidade, mas a produção tem se deslocado para áreas remotas, o que eleva o custo logístico. Quando os preços dos produtos não estão bons, fica difícil superar o gargalo.
O marqueteiro João Santana terá que criar outra imagem porque nada será mais fantasioso do que insistir nos filmes da presidente se deslocando velozmente pelo país. Como todos sabem — e sentem — pessoas e mercadorias estão engarrafadas, perdendo tempo, dinheiro e produtividade nos gargalos logísticos do Brasil.
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