Carlos Chagas
Lula indicou quatro dos atuais ministros do Supremo Tribunal Federal: Joaquim Barbosa, Dias Toffoli, Carmem Lúcia e Ricardo Lewandowski. Tendo-se como certo que participou da indicação feita por Dilma, de Rosa Weber, Luis Fux, Teori Zawaski e Luis Roberto Barroso, a pergunta que fica é a qual ou quais o ex-presidente referiu-se na entrevista a Teresa Cruvinel, dizendo que se fosse indicar um ministro, hoje, “teria mais critério”. A afirmação significa a existência de um ou mais integrantes da Suprema Corte que o decepcionaram. Cujas decisões não contam com sua aprovação, apesar de indicados por ele.
A leitura é clara. Lula está estrilando diante de um ou de alguns ministros cujos votos foram contrários aos seus interesses. “Mais critério”, no caso, exprime a frustração diante do comportamento de seus indicados, assim como revela uma concepção distorcida, de que os escolhidos por ele devem-lhe subordinação. Precisariam ter votado de acordo com a sua vontade, em questões envolvendo seus amigos, seu partido e seu governo.
O desabafo do primeiro-companheiro conduz a grave conclusão, contrária à liberdade e independência dos ministros do Supremo e aponta diretamente para o julgamento do mensalão. Quanto a fulanizar seu pensamento, é fácil começar por Joaquim Barbosa, relator e hoje presidente da casa, considerado inflexível na condenação dos autores e participantes do escândalo. Mas estarão na fila outros ministros que tem votado com Barbosa.
Fica pior no reverso da medalha. Quanto aos que buscam refrescar os réus, estarão cumprindo a determinação de agir de acordo com os interesses de quem os indicou? Alienaram sua independência e sua liberdade?
Não é provável que o STF venha a reagir à entrevista do Lula. Qualquer atitude formal de discordância equivaleria a vestir a carapuça. Mesmo assim, na intimidade, muitos ministros consideram indevida e descabida a intervenção do ex-presidente. Lembram não ser a primeira vez em que ele se intromete em questões da alçada do Judiciário. Meses atrás, tentou influenciar o voto de Gilmar Mendes, por sinal indicado por Fernando Henrique. Quebrou a cara, porque o ministro denunciou a tentativa, insurgindo-se.
REAFIRMAÇÃO DE FIDELIDADE
Na referida entrevista, o Lula aproveitou para reafirmar, pela centésima vez, que estará ao lado da presidente Dilma na campanha pela reeleição. Propôs viajar pelo país e até substituir a candidata, sempre que ela não puder comparecer a comícios e visitas. Reafirmou fidelidade ao segundo mandato da sucessora. Como sempre, bateu firme na imprensa, ou em parte dela, por haver promovido um linchamento dos acusados de participar do mensalão.
Tudo indica que se não sobrevierem inusitados, o respaldo do ex-presidente será essencial para a vitória de Dilma, daqui a um ano. Mesmo assim, existem os que supõem a candidatura do Lula, na hipótese da queda de popularidade da candidata. Ele negou a possibilidade, até informando haver precipitado o lançamento do nome de Dilma para o segundo mandato com o fim de cortar pela raiz especulações a respeito do seu lançamento.
TROCA-TROCA DESENFREADO
Só na sexta-feira saberemos o número certo dos deputados que estão trocando de partido. Eles recebem propostas milionárias em termos de apoio e até de dinheiro, sem maiores preocupações com programas e ideologias. No fundo, pensam na reeleição ou em subir de patamar político, mas prevalece a regra de que quem muda costume arrebentar-se: perde o que tinha e não conquista o que imaginava.
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