Mauricio Savarese
Uma nesga de sol já resolve. E nem é preciso durar muito. Para os londrinos é nesta época do ano que rolam as sessões de bronzeamento natural nas praças e parques da cidade.
Enquanto uns preguiçosamente almoçam em suastuppawares gigantescas trazidas de casa, outros se esticam por cima das toalhas de banho, muitas vezes sem camisa para exibir toda a sua... brancura. O Guarujá é mais ou menos aqui.
Nem precisa ser uma praça especial. Como a cidade é cercada de locais públicos aconchegantes, poucos almoçam em ambientes fechados. Até pelo fato de o café-da-manhã ser uma refeição mais importante por aqui, muitos celebram a multiplicação das barraquinhas de rua nesse período e ampliam o clima farofeiro, embora a prioridade nessa definição seja de quem traz comida de casa.
É claro que nem todos são farofeiros só por comerem ao ar livre e tomarem seu sozinho nessa cidade cinza. A questão está nos requintes. Aqueles que trazem uma sacola gigantesca de casa, litros de bronzeador, players digitais para compartilharem música ruim com o mundo certamente merecem o rótulo. Tempo também conta: há quem faz fotossíntese por uma hora e os que passam tardes inteiras.
Hyde Park, Londres
Os adolescentes e aposentados parecem estar entre os farofeiros que esticam os tempos preguiçosos. Leem, namoram, conversam com os amigos NUM VOLUME MUITO ALTO e vão lá abocanhando seu sanduíches feitos na hora, seus docinhos comprados num mercado barato ou as frutas importadas da banquinha turca -- sem as quais não é verão nestas bandas. Alguns mergulham no vinho e saem bêbados como nos dias mais frios.
No torneio de Wimbledon, que acabou com o primeiro título britânico em 77 anos (cada um tem o Basílio que merece), os farofeiros tinham sua expressão máxima: uma colina perto da quadra central com um telão gigantesco. Em homenagem ao vencedor do torneio, foi apelidada de “a montanha de Andy Murray”. Por duas semanas passaram por ali maioneses, macarrão, sanduíches de atum e bolachas maria.
Os britânicos mais ricos que conheço não veem com maus olhos o fato de as pessoas mais simples aproveitarem o verão como podem. Não tem preconceito com quem levatuppaware para a praça. Nem com os que esticam toalhas na grama logo ao lado enquanto eles pagam mais de R$ 400 para ver o torneio de tênis mais famoso do mundo. Parece que por hora farofar só é crime no Brasil.
Mauricio Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area.Twitter: @msavarese. Escreve aqui às segundas-feiras.
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